Sem condições, e com o desejo latente de cursar uma faculdade e ter uma formação, certo dia ao passar em frente a Famec (
Faculdade de Educação e Cultura
Montessori), a bernardense Milene Cardoso Suriane, 38 anos, tomou coragem para perguntar qual o curso mais barato que ofereciam. E foi ali, que segundo ela: "para minha sorte era Artes Visuais e a partir daquele momento me descobri como uma multiartista artesanal. Sim, porque era incrível como eu conseguia dominar tudo aquilo que estava a minha frente tão bem!", exclama a artista plástica.
Hoje, Milene desenvolve uma infinidade de técnicas desde a pintura em tela (acrílico), tecido, restaurações de peças antigas, trabalhos com argila, pedra sabão, papel, madeira, garrafas, feltro, que ela diz amar, inclusive acabou de fazer lindos espantalhos... "Enfim, comecei com pintura em parede e hoje consigo fazer de tudo um pouco. Fui me descobrindo e percebi que poderia experimentar e realizar todo tipo de arte. Bendito dia em que parei naquela faculdade ! O artesanato é tudo em minha vida", ressalta a artesã.
Depois que nasceu a filha Helena, Milene tem se dedicado mais à decoração infantil
Essa exaltação de Milene é compreensível, pois de acordo com ela, teve que começar a trabalhar cedo e por muito tempo nunca foi focada na arte. "Mas descobri que sou 100% artesã. Não preciso de muito espaço para a confecção de peças menores. Basta ter uma mesa de apoio que lá mesmo desenvolvo minhas habilidades ", expõe alegremente a artesã.
Milene diz que não precisa de nada para se inspirar, mas que isso depende muito de dia para dia. "Pintar mesmo só consigo em dias ensolarados. Não sei explicar bem o motivo, apenas que dias nublados me deixam meio confusa para concluir uma obra", revela a artista plástica.
Pessoas e a arte
Tarsila do Amaral é a maior referência e inspiração de Milene que ainda cita Gustavo Rosa, artista paulistano, Romero Britto e Miro como geniais artistas. Conforme Milene, apesar do empenho, dedicação e tempo de um artesão, no momento de vender o seu trabalho, nem sempre ele é valorizado o quanto merece.
"Depende bastante. Eu, por exemplo, como faço de tudo um pouco, ainda consigo ver resultados, mas a maioria que trabalha com artesanato não tem seu devido valor. As pessoas não têm ideia de que apesar de ser prazeroso, nosso trabalho leva tempo, exige técnicas, sensibilidade, e principalmente tempo", pontua.
Imagina tudo isso ainda somado ao ofício de ser mãe de uma bebezinha. Sim, Milene é mãe da pequena Helena. E sabe o que ela diz? Que ser mãe, como tudo em sua vida acontece de forma misteriosa, depois de 15 anos casada, nunca quis ter filhos devido à correia de sempre estar buscando algo novo para fazer, um belo dia descobriu que estava grávida.
" E hoje a Helena é minha melhor obra de arte. A mais perfeita! Embora eu só consiga criar algo quando ela dorme . Sabe, sou professora ha muito tempo, 20 anos, trabalhando em vários colégios . Hoje posso dizer que sou realizada, mas ainda não muito valorizada", acentua.
Disseminando seu dom
Formada em Artes Visuais e Pedagogia pela Uninove, com o nascimento da filha, Milene teve que dar um tempo na sua vida sempre ligada no 220 e trancou o curso de Jornalismo que estava fazendo na Unoeste (Universidade do Oeste Paulista). Outra profissão que ela considera uma "arte" e gosta muito.
Milene dorme arte, acorda arte! É assim que ela se coloca e diz que pretende passar para a sua filha o quanto a arte vale a pena. "Afinal, em sua infinita grandeza ela pode transmitir muitos sentimentos. Quero que ela seja uma grande aprendiz. Deixarei isso como herança", acentua.
Os trabalhos de Milene podem ser vistos em residências, estabelecimentos comerciais, ateliês. "Crio para todos os tipos de ambientes e eventos, como escritório, escolas, cozinhas, salas, quartos, casamento, datas comemorativas. Agora estou me dedicando mais a temática infantil, como lembrancinhas móbiles, jogos pedagógicos, tudo feito em feltro. Algo inesquecível, que me marcou muito foi quando fiquei uma temporada na feira tradicional de Embu das Artes e em Campos do Jordão", recorda.
