Desespero só piora

OPINIÃO - José Renato Nalini

Data 31/05/2024
Horário 04:30

Parece que alguns acordaram tarde. Não deram ouvidos aos cientistas que, há décadas, vinham alertando sobre os efeitos desastrosos do aquecimento global. Um deles era o de que o nível do mar aumentaria. Cidades litorâneas seriam engolidas pelos resultados do degelo das calotas polares.
Agora, tentam alargar as praias, querendo retomar ao oceano o que é dele. Em vários pontos do litoral brasileiro verificam-se dispendiosas obras de intervenção nas praias. Santa Catarina parece o Estado mais empenhado em contar com o acréscimo de orla, pois o turismo é uma indústria poderosa.
Essa tentativa é ilusória. Tem vida curta. Prevê-se a criação de degraus na areia e prejuízos à biodiversidade marinha. A pressa em mostrar resultados, principalmente em ano eleitoral, faz com que não sejam aguardados os resultados das análises dos impactos socioambientais. Estes duram mais do que a obra, feita a toque de caixa. 
Jurerê, no litoral catarinense, é a proposta mais ambiciosa. Aumento da faixa de areia em 3,38 km. Um volume dragado de 491,2 mil metros cúbicos de areia e, após terminada, uma faixa de 30 metros, a um custo aproximado de R$ 25 milhões.
Não foi por falta de aviso. Agora em outubro de 2023, pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina emitiram nota técnica pretendendo a reversão do uso dessa engenharia. Não se compreende ainda, ao menos integralmente, os efeitos que esse acréscimo artificial causará. Um dos mais prováveis é a ameaça à atividade pesqueira. Pois a obra depende de ser dragado o fundo marinho, detentor de uma biodiversidade ainda desconhecida. 
Não é simples pretender “reformar” as praias, que são obra da Providência e não produto humano. Se o aquecimento global não cessar, o fenômeno da invasão das margens pelo mar será irreversível. Toda vez que o homem se propõe a substituir o Criador – ou a natureza, para os agnósticos – isso não dá certo. Agora o desespero de quem vê desaparecer a orla e afugentar o turismo, com a erosão que chegará até à indiscriminada edificação em zona que deveria ter sido preservada, custa milhões para uma população já assustada com a carga tributária de um país que reserva 5 bilhões para propaganda eleitoral e cujos parlamentares gastaram fortuna em autopromoção no ano de 2023. O desespero deveria gerar outras soluções para problemas que derivam da inconsequência humana. Mas a humanidade é assim mesmo. Será um defeito de fabricação?
 

Publicidade

Veja também