Desigualdade social coopera para a epidemia de homicídios no Brasil

EDITORIAL -

Data 07/06/2017
Horário 17:26

“Polícia confirma atos de terrorismo em ponte e mercado de Londres”. “Incêndio em hotel invadido por atirador deixa 36 mortos nas Filipinas”. “Atentado mata pelo menos 90 em Cabul”. “Explosão após show deixa 19 mortos em Manchester”. Essas são algumas das manchetes que estamparam as capas dos jornais e chocaram o mundo nos últimos dias. São fruto de atentados terroristas, reivindicados por facções como o Estado Islâmico e o Boko Haram. Mas nenhum atentado, nem mesmo todos eles juntos, matou mais pessoas que o número de homicídios registrado no Brasil em 2015.

De acordo com o Atlas da Violência 2017, divulgado anteontem pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), em parceria com o FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), 59.080 assassinatos foram registrados no Brasil em 2015. Enquanto isso, no mesmo ano, as mortes em decorrência de ataques terroristas em 163 países desenvolvidos alcançaram a quantia de 29.376 registros, como constata o Índice Global de Terrorismo de 2016.

Nem mesmo todos os atentados terroristas do mundo nos cinco primeiros meses deste ano superam o número de homicídios catalogado no Brasil em três semanas de 2015, segundo o estudo do Ipea. De janeiro a maio deste ano foram 498 ataques, com a morte de 3.314 pessoas no mundo, conforme levantamento da “Esri Story Maps” e da “PeaceTech Lab”. Já no Brasil, cerca de 3,4 mil pessoas perderam a vida de maneira violenta a cada três semanas em 2015.

O perfil dessas vítimas fatais é bem conhecido: homens, jovens, negros e com baixa escolaridade. No que diz respeito à distribuição geográfica, o nordeste segue despontando como líder nesse crime. Seus municípios estão entre os mais violentos. Em contrapartida, as regiões sul e sudeste dominam entre as cidades mais pacíficas do país. Especificações que deixam claro o verdadeiro vilão brasileiro, responsável por essa matança toda: a desigualdade social.

Pobreza, falta de oportunidades, acesso restrito à educação, emprego e renda, são itens que distanciam os brasileiros de seus direitos básicos e os aproximam da sepultura. Quesitos que mostram que, ao contrário do que muitos dizem, a morte tem cara. Ela é “homem, jovem, negro e com baixa escolaridade”.  

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