Estava andando pelo centro de Presidente Prudente, ávido para colher matéria para as crônicas que publico todos os domingos no jornal O Imparcial. O cotidiano brasileiro prudentino é muito rico em personagens. Não foi à toa que Paulinho da Viola, em um dos seus belos sambas, disse em uma das estrofes: "As coisas estão no mundo só que preciso aprender".
Pois bem, achei o nosso personagem: um pastor que estava aos berros pregando a palavra de Deus no espaço livre da praça da Catedral. Parei e fiquei escutando. O homem tinha um gogó impressionante. Falava sem o auxílio de um microfone apesar de ter um microfone. De repente, ele olha na minha direção e pergunta: O senhor acredita em Deus? Olhei para os lados, para trás, para frente, para o alto em dúvida: Será que é para mim essa enigmática pergunta? Era para mim mesmo. Deus tem seus propósitos, gritou o pastor. O senhor acredita em Deus? Insistiu na misteriosa pergunta.
Putz, mas que fria eu entrei. As poucas pessoas que lá estavam olharam para mim esperando que eu seria um enviado de Deus. Queriam ver um milagre. Bom, não seria o momento de colocar a visão e o conceito do filósofo alemão, Nietzsche, que escreveu o livro "Deus está morto". E também não seria a hora mais apropriada para ter um debate filosófico de visão Darwiniana com o pastor. Aliás, estava procurando matéria e não a origem do mundo.
Sabe o que é, pastor, eu... Ele não esperou eu terminar a frase e já foi me dizendo: Eu vou provar que Deus existe: há algum tempo atrás, estava triste, desanimado, aborrecido e muito cansado. Cheguei à minha humilde casa, beijei minha mulher na sua santa face, me ajoelhei, e com toda a minha angústia fui reclamar cheio de desgosto: Deus, estou cansado de pregar sem som nas ruas, tenho que gritar muito e as pessoas zombam dizendo que o Senhor não é surdo. Não sei o que fazer. Estou ficando sem voz. Me ajude meu bom Pai e caí no chão em prantos.
Ele continua: Passado alguns dias, Deus me manda pelo correio, uma caixa de som modelo anos 80. Era grande e pesada. Veio sem microfone. Pedi novamente a ele que sem microfone não dá pra pregar a palavra do Senhor. Pensei: Uma caixa modelo anos 80, grande e pesada sem microfone é demais para qualquer e mais fervoroso fiel pastor. Nem Hércules no seus 12 desafios iria aguentar uma parada dessa. Deus, cadê o meu microfone? Será que Deus é o Michel Klein das Casa Bahia? E não é que uma velha senhora que ficou sensibilizada com o esforço do Pavarotti da fé, gritando sem microfone com uma caixa de som anos 80, grande e pesada, acabou dando de presente o tão sonhado microfone?
Estão vendo, Deus usou essa senhora como instrumento de fé, olhando pra mim. Não satisfeito, o pidoncho pastor pediu mais um favor a Deus. Alegando que estava cansado de carregar essa caixa modelo anos 80, grande e pesada, pediu uma caixa mais moderna, pequena e com rodinha. Alguns dias depois, ele disse que apareceu na sua porta a caixa de som moderna, pequena e com rodinhas. Não me perguntem como, afinal vocês não acreditam em Deus?
E o pastor continua com sua pregação olhando sempre pra mim: Não pensem vocês que me dei por satisfeito, pois Deus detesta os acomodados. Pasmem os senhores e senhoras, o pastor pediu um carrão. Não é um simples carro e sim um carrão. Assim ele me provou que Deus existe. Aleluia. Cumprimentei o pastor e fiz um pedido: pastor, eu tenho um sério pedido pro senhor. Pode falar meu filho! Por favor, não peça nunca a Deus para o Palmeiras ser campeão mundial. Ele sorriu dizendo que era corintiano. É nóis, pastor. Vejam vocês.