Dois mundos

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 28/05/2023
Horário 04:10

É o jovem que fui quem conversa diariamente com a juventude que está por aí. Acho divertido o interesse juvenil pelos drones, cortadores à laser, escaneadores e impressoras 3D, aparelhos de robótica dentre outros novos objetos de desejo. Apesar do meu interesse pelas inovações tecnológicas, eu lido com os sofisticados telefones celulares ou com o compactos computadores ao nosso alcance como parte de um mundo distante. Explico.

Muito antes de decidir pela carreira no ensino de geografia, eu sempre fui apaixonado por mapas. Desde os primeiros mapas que representam o que hoje são as terras brasileiras que foram elaborados pelos portugueses utilizando-se de técnicas de navegação marítima até a enorme coleção de mapas produzida pelo IBGE com base no levantamento cartográfico nacional iniciado em 1939. Não canso de navegar pelo famoso mapa “Terra Brasilis”, feito no ano de 1519 pelo cartógrafo português Lopo Homem, com destaque para a direção dos ventos e detalhes da faixa costeira, como as baías, cabos e desembocadura dos grandes rios. Tenho o maior orgulho de visitar o acervo da biblioteca da Unesp e consultar a coleção do “Brasil ao milionésimo”, com o mapeamento completo do território brasileiro na escala de 1 por milhão. Fico imaginando o trabalho dos cartógrafos para reunir as informações coletadas em campo e os documentos de referência cartográfica para desenhar o mapa do Brasil na articulação de apenas 46 folhas!

Navegar pelo mundo representado e impresso no papel movimenta um tipo de pensamento denominado de analógico que foca, ao mesmo tempo, nos objetos que compõem a cena como também na relação entre esses objetos. Mapas impressos em papel são mapas analógicos porque representam os objetos segundo as mesmas disposições, relações e dimensões conforme são percebidas na realidade. Em outras palavras, eu ainda vivo num mundo analógico porque fico a todo instante me apegando à concretude dos objetos, mas também buscando um certo alinhamento estrutural entre eles. A nova geração não. Ela nasceu no meio digital e desenvolve uma nova maneira de se relacionar com o conhecimento. O problema dos jovens de hoje não é a falta de informação, pois ela é abundante, mas a seleção ou filtragem do que realmente é importante. As ideias estão nas nuvens, microidéias encapsuladas como unidades independentes de pensamento sem nenhuma relação aparente com outras idéias. O conhecimento agora precisar ser gerado em rede. Vamos juntar nossos distantes mundos? “Façamos da interrupção um caminho novo...Da procura, um encontro!” (Fernando Sabino)

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