Foi realizado ontem (15), no auditório do Aruá Hotel, o evento "Doutores da Tilápia – Imersão Exclusiva na Tilapicultura Brasileira". O evento, que reúne 120 tilapicultores de todo o país, promoveu um mergulho técnico nos principais desafios do setor, com palestras de especialistas focadas em sanidade, manejo, nutrição e estratégias para reduzir perdas e aumentar a lucratividade.
A abertura do evento foi marcada pela palavra dos diretores da Fosferpet, Eduardo Pasquini Oliveira e Itamar Alves de Oliveira, que destacaram o compromisso da indústria de insumos em abrir as portas e mostrar o que há de mais moderno para apoiar o produtor. "A ração representa cerca de 70% do custo da piscicultura. Quisemos usar essa oportunidade para mostrar o que temos de mais moderno e como o sucesso sempre foi pautado na qualidade", afirmou um dos representantes.
Um dos pontos altos do primeiro dia de palestras foi a análise aprofundada sobre as causas da mortalidade na cadeia produtiva. O especialista Santiago de Pádua - mestre em Aquicultura e Especialista em Sanidade de Peixes - apresentou dados alarmantes: a mortalidade acumulada ao longo de todo o ciclo da tilápia em tanques-rede chega a 68,4%. Isso significa que, atualmente, são necessárias 3,2 larvas para produzir um único peixe que chegue ao frigorífico.
"Se a gente mostrar esse número para um produtor de frango, ele vai se assustar. Tem algum problema de eficiência muito grande na nossa operação", alertou Santiago. Ele destacou que quase 90% de todas as perdas se concentram na fase inicial de criação, da larva ao juvenil, sendo os manejos excessivos e estressantes um fator crucial, além de doenças como o vírus ISKNV.
A palestra percorreu as principais enfermidades que afetam as diferentes fases de criação. Na alevinagem, o ISKNV é o agente mais relevante, seguido por problemas de qualidade da água, como intoxicação por amônia e nitrito. Já na fase de engorda, as estreptococoses e lactococoses lideram as causas de morte, especialmente durante o verão, quando o estresse térmico se soma a outros fatores.
O especialista foi enfático ao defender que não existe uma "bala de prata" para resolver os problemas. A solução, segundo ele, está em um conjunto de estratégias: conhecer as doenças específicas de cada região e fase, implementar um rigoroso monitoramento, adotar programas de vacinação robustos, investir em biosseguridade, e, principalmente, focar em boas práticas de manejo e nutrição de qualidade. "Não existe um único produto que vai ser a salvação da sua produção. A gente precisa de toda uma estratégia combinada", concluiu.
Na sequência, Tiago Ushizima, gerente da Adisseo, reforçou a abordagem preventiva. Ele destacou que a ração, que representa cerca de 70% do custo de produção, deve ser vista como um investimento em saúde e desempenho, e não apenas como um custo. "A nutrição hoje é muito maior do que apenas nutrir. É uma ferramenta fundamental para a saúde intestinal e a imunidade dos peixes", afirmou.
Ushizima também abordou a importância do planejamento financeiro e da gestão, mostrando como a ineficiência e o endividamento com fornecedores podem corroer a rentabilidade do negócio.
A palestra de Silvia Pastore - mestre em Nutrição Animal e Especialista em Nutrição de Tilápias e Camarões - trouxe uma perspectiva inspiradora ao comparar a evolução da avicultura com o potencial futuro da tilapicultura. Através de um estudo clássico, ela mostrou como, em décadas, a combinação de melhoramento genético e avanços em nutrição permitiu que melhorássemos a conversão alimentar e o tempo de criação de forma muito superior.
"Esse trabalho nos mostra o potencial imenso de melhoria dos índices zootécnicos. A tilápia tem um caminho enorme a percorrer, e a nutrição é a chave para liberar todo o potencial que a genética já oferece", projetou.
A imersão "Doutores da Tilápia - Saberes e Sabores" continua nesta quinta-feira com uma programação que inclui uma visita técnica à fábrica da Fosferpet, considerada uma das mais modernas do setor. A imersão segue com o objetivo de equipar os produtores com conhecimento de ponta para enfrentar os desafios sanitários e gerenciais e, assim, aumentar a eficiência e a competitividade da tilapicultura nacional frente ao mercado global.
Fotos: Sinomar Calmona
Silvia Pastore, mestre em Nutrição Animal e Especialista em Nutrição de Tilápias e Camarões
Tiago Ushizima destacou que a ração, que representa cerca de 70% do custo de produção, deve ser vista como um investimento em saúde e desempenho
Santiago de Pádua, mestre em Aquicultura e Especialista em Sanidade de Peixes
Agrônoma Fernanda Dourado, gerente de marketing da Fosferpet
Eduardo Pasquini Oliveira e Itamar Oliveira, diretores do grupo Soesp/Fosferpet/Fosfish