Eunice Cruz: direito das mulheres

Anastaciana que estudou em São Paulo e radicou-se em Prudente tem percorrido o mundo levando a bandeira do feminismo, inclusive com ações junto à ONU

PRUDENTE - HOMERO FERREIRA

Data 26/01/2020
Horário 09:12
Weverson Nascimento - Eunice Cruz: administradora, teóloga e advogada que luta pela igualdade de condições entre homens e mulheres
Weverson Nascimento - Eunice Cruz: administradora, teóloga e advogada que luta pela igualdade de condições entre homens e mulheres

Eunice Aparecida da Cruz é mulher determinada, ao ponto de que seu pai dizia não sentir a falta de ter filho homem. Em uma das empresas na qual trabalhou, o chefe dizia que resolver problemas com ela, era como tratar do assunto como se fosse de homem para homem.

Embora nascida em berço de ouro, em uma família que lhe oferecia conforto e segurança, foi à luta muito cedo. Aos 17 anos trocou Santo Anastácio por São Paulo e região metropolitana, lugares em que fez cinco cursos superiores e, além de estudar, trabalhou.

A bandeira feminista da personagem desta reportagem tem muito a ver com a sua determinação e de quem diferencia feminismo de femismo, com entendimento de que um movimento busca a igualdade das mulheres com os homens e o outro contrapõe mulheres e homens.

Sua origem tem descendência espanhola e das famílias da Bahia de seus avós paterno e materno, que se encontraram em Anastácio. Seus pais Manoel Messias Ribeiro da Cruz e Luiza Gonçalves da Cruz eram crianças quando as famílias se mudaram das cidades onde nasceram.

Manoel nasceu em Pitangueiras, na região de Ribeirão Preto. Luzia, em Marília. Suas famílias compraram terras em Anastácio. Lá cresceram e se casaram. Manoel se estabeleceu como comerciante; dono das lojas Feira das Roupas Feitas, duas na rodoviária e outra atrás do fórum.

Tiveram duas filhas. A irmã mais nova, Débora, ficou o tempo todo com a mãe, que cuidava dos afazes domésticos, costurava e ajudava nas lojas. Solteira, Débora mora com a irmã no Jardim das Rosas, em Prudente, nas imediações do Museu e Arquivo Histórico “Prefeito Antônio Sandoval Netto”.

EM BUSCA DOS

SEUS SONHOS

Ao mesmo tempo em que fez o ensino básico em Anastácio, Eunice estudou piano no conservatório, atual Escola Municipal de Artes “Professora Jupyra Cunha Marcondes”. Foi aluna de Sebastião Jorge Chammé. Lá, Eunice teve oportunidade de dar aulas para crianças.

Em Presidente Venceslau deu aulas de piano para alunos de diferentes idades e foi regente do coral, antes de ir para São Paulo. Para lecionar também valeu-se da experiência de ter sido organista da igreja evangélica frequentada por sua família.

Sua primeira formação foi em 1974 na FEA-USP (Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo). Ano em que nasceu seu único filho: Willian Cruz. Na Faculdade Teológica Batista de São Paulo fez Teologia, para conhecer melhor as escrituras e outras religiões. 

Junto aos estudos, trabalhou na Toddy do Brasil, Bauducco e Banco Safra. Como sempre projetou bem a sua vida, decidiu que até os 45 anos voltaria à sua região de origem. Então, os 38 anos foi cursar Ciências Jurídicas na FIG (Faculdades Integradas de Garulhos).

Ao final da Teologia fez a primeira pós-graduação, com especialização em Comunicação, na Batista. Fez especialização em Direito Civil na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Lecionou por pouco tempo e abriu mão dessa possibilidade para ter tempo de se envolver em várias ações.

Prevendo não ter empregos bem remunerados no interior, entendeu que a advocacia, associada à sua atuação em desenvolvimento pessoal, garantiria seu padrão de vida. Ainda assim, ficou mais 1 ano em Guarulhos (1992) com dois sócios ganhando dinheiro e experiência.  

ATENÇÃO PARA

AS MULHERES

Lá foi voluntária em ONG (organização não governamental) que atendia pessoas sem condições financeiras de tirar documentos e fez assessoria à Avitran (Associação das Vítimas de Trânsito), onde viu a dificuldade das pessoas buscarem seus direitos e que a maioria era mulher viúva ou que perdera os filhos.

Foi o início do trabalho mais específico com mulheres e que perdura até os dias atuais. Desde 2000 integra a BPW (Associação de Mulheres de Negócios e Profissionais) nos planos regional, nacional e internacional. Além de outros cargos de direção, foi presidente por duas vezes da BPW Brasil.

Esteve à frente da federação das associações com sede em Brasília durante seis anos, na qual permanece como past presidente e conselheira superior. Na BPW América Latina é vice-coordenadora. Essa organização está em 107 países, com mais de 50 mil associadas e tem assento consultivo na ONU (Organização das Nações Unidas).

Como presidente, Eunice Cruz deixou o legado da ampliação da BPW de 14 para 24 cidades nas cinco regiões brasileiras com associações e quatro projetos nacionais com meses definidos para serem realizados.

“Março é Mulher” é voltado à valorização do trabalho. Em maio, “Trabalho igual, salário igual” é pela igualdade salarial. Em agosto e setembro o “Doando Vidas” é sobre doação de órgãos e tecidos. Para junho tem “Embaixadoras da Água”, projeto de responsabilidade social e ambiental.

Há oito anos participa de congressos da ONU, sendo nos últimos seis com apresentação de trabalhos junto à CSW (Comissão sobre o Status da Mulher), em Nova Iorque. Eunice Cruz conhece 60 países, dos quais apresentou trabalhos e fez palestras em pelo menos 40.

No ano passado, a convite do governo russo foi à Rússia compartilhar projetos de empreendedorismo feminino. No Brasil faz parte do CNDM (Conselho Nacional dos Direitos da Mulher), vinculado à SNPM (Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres), com sede em Brasília.

ATUAÇÃO EM

VÁRIAS ÁREAS

Participa da Organização Soroptimista Internacional, como tesoureira em Prudente. Há cinco anos é conselheira regional da Fiesp-Ciesp (Federação e Centro das Industrias do Estado de São Paulo). Foi diretora financeira da 29ª Subseção da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), de 2012 a 2015.

Teve participação nos conselhos municipais da pessoa com deficiência, educação, saúde e idoso. Trabalhou em diversos projetos sociais em bairros carentes e o último, no ano passado, ajudou a promover protagonismo dos alunos da Escola Estadual João Carlos Padilha, no Jardim Cambuci.

Mantém escritório de advocacia e a empresa Girassol Desenvolvimento Humano, que oferece serviços no Brasil e em outros países. Seu marido José Domingos de Oliveira é coronel da reserva que, entre outras funções, comandou o 14º Grupamento de Bombeiros.

Seu filho Willian é pastor em Balneário Camboriu, em Santa Catarina, casado com Eliane Ferreira Cruz e têm três filhas. Mulher, profissional, esposa, mãe, sogra e avó, Eunice Cruz encontra tempo para outras preocupações e ocupações, como o curso de oratória que oferta pela OAB e programa de rádio.

Sempre que está em Prudente, cidade que define como o seu QG (Quartel General), participa do programa “Mulheres em Destaque” apresentado por Márcia Padilha, de segunda a sexta-feira, das 14h às 15h, na Rádio Prudente - AM 1070.

A vida de Eunice Cruz é norteada por várias máximas, e dentre elas está a do teólogo e filósofo francês Blaise Pascal (1623-1662): “ninguém é tão ignorante que não tenha nada para ensinar ou tão sábio que não tenha nada para aprender”.

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