O problema da insônia é o tema central do espetáculo "Vigília", que compõe a grade de programação do 22º Fentepp (Festival Nacional de Teatro de Presidente Prudente), e será apresentado gratuitamente a partir das 18h deste domingo, na Sala de Convivência do Centro Cultural Matarazzo. O ponto mais curioso desta obra é a sua longa duração, já que o elenco passa 12 horas no espaço cênico. Com entrada gratuita, a ideia é que o público entre e saia a hora que quiser, sem perder a lógica do enredo. Ainda hoje, outras três peças serão apresentadas na cidade.
Com início às 18h e término às 6h da manhã de segunda-feira, o espetáculo "Vigília" é assinado pelo premiados dramaturgo e roteirista Cássio Pires. A montagem é um misto de teatro, performance e intervenção artística, em que os três atores do elenco ficam em cena durante as 12 horas, entretanto, o público tem a liberdade de entrar e deixar o espaço cênico quando quiser e sem perder o contexto da trama.
Grupo permite que o espectador entre e saia a qualquer momento da noite, sem perder o enredo
Em "Vigília", um homem compartilha com a plateia o dilema de não dormir há anos. No limite da exaustão, compartilha seu problema e suas diversas formas para cair no sono: remédios, conversa com estranhos, consultas em médicos e psicólogos, em uma dialética reflexiva que aborda a relação das pessoas com o tempo. A pesquisa iniciou-se em 2010 e, contemplada pelo ProAC (Programa de Ação Cultural) em 2012 e em 2007, integrou a programação do Intercity Festival, do Teatro dela Limonaia em Florença, na Itália. André Capuano, Cássio Pires, Carlos Canhameiro e Daniel Gonzalez integram o elenco.
Outras encenações
Outras três peças recheiam a programação deste domingo do Fentepp. Para quem perdeu ontem, tem a chance de ver hoje "São Jorge Menino" (rua), "Reality (Final)" e "Máquina de dar certo" (adulto/pago). Os horários, locais, valores de convites, além da classificação etária, estão no box ao final da matéria.
A Cia. Bruta de Arte, de
São Paulo, vem ao festival com "Máquina de dar certo", às 20h, no Teatro Paulo Roberto Lisboa, do Matarazzo expondo a dramaturgia textual dando margem à dramaturgia do movimento que torna a obra um híbrido das linguagens do teatro e da dança.
A atenção é voltada ao condicionamento do corpo (inclusive do ator) em exaustivas horas em uma série de atividades, que prendem a atenção do outro. Segundo Paulo Maeda, um dos atores em cena, o espetáculo dá o que pensar sobre a exploração do espírito voyeur (muito em voga atualmente) de telespectadores, combinada ao alto faturamento pela audiência do "Big Brother".
De acordo com ele, os testes de condicionamento difundidos pelo psicólogo Frederic Skinner (1904-1990) foram referências utilizadas pela companhia. E assim como nos experimentos "da caixa de Skinner" com ratinhos brancos treinados a partir de estímulos, os atores Ana Lúcia Felippe, Angela Ribeiro, Dagoberto Macedo, Marba Goicochea, Ricardo Socalschi, Tico Dias, Teka Romualdo, Thammy Alonso e Wanderley Salgado permanecem em cena todo o tempo recebendo orientações, tarefas e coreografias de uma voz de comando.
"Essa questão de se estar atento ao comportamento alheio. Ou então como algo pode deixar de ser prazeroso, como a música, por exemplo, quando passa a ser imposta... aprisionadas e constantemente vigiadas, as figuras que despontam viram cobaias sem saber quem manda as ordens. É uma peça bacana que temos o prazer de trazer em nossa primeira participação neste festival tão importante", destaca Paulo.
Em duas sessões de"Reality (Final)", a perversão da cultura televisiva sintetizada nos reality shows serve como pano de fundo. Doentes terminais disputam o prêmio de quem morre por último, vigiados 24 horas pela transmissão ao vivo: é o público, soberano, que escolhe o vencedor. O que parece mórbido, na verdade, resulta uma comédia despudorada e isenta dos clichês, disposta a cutucar a existência em suas situações-limites. No plano da vida privada, os personagens lidam com a doença, a morte, o fracasso e as crises familiares. Ao mesmo tempo, habitam a sociedade do espetáculo.
Este é mais um texto da conceituada dramaturga Michelle Ferreira, que conta com a direção de Ramiro Silveira e no elenco: André Corrêa, Flávia Strongolli, Maura Hayas Michelle Ferreira, Paula Brandão e Solange Akierman. Tem ainda uma participação especial, voz em off de Antônio Abujamra.
Formativas
Assim como ontem, hoje ocorre das 13h às 17h, na Sala de Cinema Condessa Filomena Matarazzo, o workshop "Dramaturgias do Aqui e Agora". A construção de enredo, personagens, diálogos e tema, em consonância com o mundo e as questões contemporâneas, é o foco desta oficina com Michelle Ferreira, autora de "Animais na Pista", "Reality (Final)" e "Os adultos estão na sala".
PROGRAMAÇÃO 22º FENTEPP
* Hoje
Rua
"SÃO JORGE MENINO"
Cia São Jorge de Variedades / São Paulo-SP / livre para todos os públicos
Horário: às 15h
Local: Sesc Thermas
Entrada: aberto ao público
Adulto
"VIGÍLIA"
André Capuano, Cássio Pires, Carlos Canhameiro e Daniel Gonzalez / São Paulo-SP / livre para todos os públicos
Horário: às 18h
Local: Sala de Convivência, Centro Cultural Matarazzo
Entrada: gratuita
Adulto
"REALITY (FINAL)"
A Má Companhia Provoca
/ São Paulo / 14 anos
Horário: às 19h e 22h
Local: Sala 2 do Centro Cultural Matarazzo
Ingressos: R$ 5 credenciados, R$ 8,50 meia-entrada e R$ 17 inteira, à venda na bilheteria do Sesc Thermas
Adulto
"MÁQUINA DE DAR CERTO"
Cia Bruta de Arte
/ São Paulo / 18 anos
Horário: às 20h
Local: Teatro Paulo Roberto Lisboa, Centro Cultural Matarazzo
Ingressos: R$ 5 credenciados, R$ 8,50 meia-entrada e R$ 17 inteira, à venda na bilheteria do Sesc Thermas
