Formação da mente

Para a formação da mente de um bebê saudável, seria necessário que houvesse inicialmente um desejo e um bom planejamento. O desejo já é suficiente, planejamento ainda melhor. “Enquanto não houver a internalização de um objeto continente (suficientemente bom), a criança não tem condições de enfrentar, sem a presença externa desse objeto (no caso a mãe), o temor de ser aniquilada, ou qualquer outra manifestação sensorial, pois não há condições de simbolizar, no início, na ausência do objeto externo”. 
Sabemos que, desde o nascimento, o bebê, além de ser alimentado e cuidado, precisa de um objeto (geralmente a mãe) para apegar-se, aderir-se e desenvolver um sentimento de “pertencer a”. Os diversos estudos científicos maternos sobre o desenvolvimento da personalidade formularam o vínculo de apego; este se manifesta no comportamento do bebê, que busca estar próximo da pessoa preferida, que assim se torna a pessoa que cuida dele desde o início. 
O conceito de apego difere do conceito dependência, que entende que os vínculos se desenvolvem porque o indivíduo descobre que, para satisfazer certos impulsos, por exemplo, alimentar-se, necessita de outro ser humano. O bebê, em seus primeiros dias (forma mais primitiva), as partes da personalidade ainda não estão diferenciadas com as partes do corpo, que são sentidas como não tendo força alguma que as mantenha unidas. Seriam esses os estados de “não integração” que este vive no início. A presença sensorial da mãe (braços, seios, voz e cheiro) e sua função mental (acolhimento e amor) funcionam como objeto integrador. 
A mãe (primeiro objeto) é o que dá a sensação de existir, de ter uma identidade. Em sua ausência, há uma sensação de dissolução, de deixar de existir. Há necessidade de uma fronteira que dê a noção de dentro e fora (no psiquismo). As partes da personalidade, que, no início, equivalem às partes do corpo, em sua forma mais primitiva, sentem não ter força alguma que as ligue entre elas e que a pele e as sensações são sentidas como uma fronteira entre o dentro e o fora. Essa experiência do bebê permite-lhe ter uma noção de um espaço interno, pois a experiência de estar contido por uma pele ocorre pela existência de um objeto concreto mãe, que segura o bebê em seus braços, escuta-o, olha-o e transforma suas comunicações acontecidas por identificação projetiva; portanto, o bebê tem experiência com um objeto que tem um espaço interno dentro do qual ele pode projetar. 
Assim, “a formação simbólica pode se iniciar” (Marisa P. Mélega - psicanalista). O mais importante é que, se houver todo esse funcionamento mental acima adequado, o bebê poderá lidar melhor com as futuras adversidades e frustrações inerente à vida. E assim, criar soluções estéticas para viver. Evitando soluções mágicas, como drogas, álcool ou compulsões, por exemplo. Há outro estado de mente diante de inadequações primárias, quando ouvimos: “aquela pessoa não tem personalidade” ou “dança conforme a música”. 
Poderíamos também pensar no camaleão que adere o objeto externo, identificando por imitação ou mímica, aqueles animaizinhos que aderem à mesma cor e formato, permanecendo indiscriminados. Há pessoas que se tornam a sombra de alguém (outro). E na ausência do outro, perdem-se permanecendo sem direção. Essas características levam o sujeito a procrastinar, à insegurança, dependência e ausência total de autonomia. 
Conflitos serão constantes, pois, tomar alguma atitude e decisão é impossível. O desamparo ou carência afetiva internalizado durante a introjeção e projeção de maus objetos, pós-nascimento, podem levar o indivíduo à infinidade de transtornos, como depressão, ansiedade, alimentares, hiperatividade, psicóticos, etc. Todo sofrimento repetitivo que provoca impasses e constância deve ser considerado e tratado por especialistas em saúde mental. Simbolizar as faltas é viver. É preciso.
 

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