Ganhe ou perca minutos de vida com a alimentação

Jair Rodrigues Garcia Júnior

Viver alguns minutos a mais ou a menos no final da vida não faz diferença para a maioria das pessoas. Mas, você pode somar ou subtrair algumas vezes 1440 minutos (número de minutos no dia) e viver alguns dias, semanas, meses ou anos a mais ou a menos. Um fator determinante para isso é a alimentação.

DIETA PADRÃO
A dieta do brasileiro contém vários alimentos ultraprocessados, que representam 20% ou mais do consumo calórico diário. Também contém frituras e quantidade razoável de carnes de boi, frango e porco. Apesar do bom valor nutricional, as carnes podem ser negativas para saúde, quando consumidas com frequência e em excesso. Por outro lado, a maior proporção dos brasileiros não consome o mínimo recomendado de vegetais (400g por dia). Legumes, frutas, verduras e cereais integrais possuem nutrientes essenciais e componentes antioxidantes, anti-inflamatórios e que modulam positivamente a microbiota intestinal. 

ÍNDICE NUTRICIONAL DE SAÚDE 
Esse índice associa o consumo frequente e prolongado de alimentos específicos (como os mencionados acima) com o tempo de vida saudável, com base em estudos populacionais ao longo de cinco anos ou mais. A dieta do brasileiro contém alimentos saudáveis, tais como arroz e feijão, que juntos acrescentam 1,4 min de vida saudável para cada 100g de consumo. Porém, são também frequentes na dieta do brasileiro alimentos que subtraem minutos, como carne vermelha (–23,9 min a cada 100g), biscoito recheado (–31,6 min a cada 100g) e refrigerante (–1,9 min a cada 100g). Portanto, combinações como estas fazem com que o impacto geral dos alimentos seja “negativo” quanto aos minutos de vida saudável. 

Utilize as informações do Índice Nutricional de Saúde para a seleção dos alimentos e a frequência de consumo de cada um

REQUISITOS DA DIETA
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), os quatro princípios para alimentação saudável são: ser adequada, equilibrada, moderada e diversificada. Adequada é a que fornece os nutrientes de acordo com sua necessidade (idade, atividade física etc); equilibrada é a que fornece as proporções ideias dos carboidratos, proteínas e gorduras (incluindo insaturadas); moderada é aquela na qual não há excessos dos macro ou micronutrientes (vitaminas, por exemplo); e diversificada é a que tem variação dos alimentos consumidos no dia e ao longo da semana (não há monotonia nutricional).

GUIA ALIMENTAR
O Guia Alimentar para População Brasileira do Ministério da Saúde é, sem dúvida, o melhor “GPS” para alimentação saudável. Esse guia deve servir de referência para consulta e comparação ou comprovação quando se vê profissionais de saúde divulgando informações duvidosas na internet e redes sociais. Eliminar o leite, o glúten, diminuir carboidratos e usar banha de porco no lugar de óleos vegetais são algumas das “barbaridades nutricionais modísticas” propagadas. Ressalvando que há casos específicos que requerem restrições específicas. A adoção de um padrão alimentar semelhante ao descrito no guia tem potencial para evitar cerca de 14 mil mortes por ano, provocadas por doenças crônicas.

AS REFEIÇÕES
Obviamente, você não vai conseguir calcular exatamente o ganho ou perda de dias de vida registrando as quantidades consumidas de cada alimento. O ideal é utilizar as informações do Índice Nutricional de Saúde para a seleção dos alimentos e a frequência de consumo de cada um. Ao montar o prato de cada refeição pense nas necessidades de proteínas, carboidratos, gordura e demais nutrientes, mas também nas fontes destes nutrientes, ou seja, alimentos que têm maior potencial de adicionar minutos de vida saudável.

Referências
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