Geleia geral

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 22/05/2022
Horário 05:20

Estive durante a ultima semana em Maceió, capital do minúsculo estado de Alagoas, repleto de contrastes étnicos e econômicos. Na abertura do evento da universidade fomos presenteados com um folguedo popular repleto de personagens identificados pelos chapéus em forma de igrejas e casarios enfeitiçados com espelhos e fitas coloridas. Os “dançadores” pisavam forte e os mestres cantores puxavam fandangos, reisados e côcos de roda. A cultura de Alagoas é um híbrido de influências afro-brasileiras, indígenas e portuguesas expressas nas festas, nos pratos típicos e no artesanato. Mas na orla marítima fala mais alto aquela mistura da elite caricata e burlesca (definição precisa de Machado de Assis) com a inovação tecnológica do mundo digital.  Geléia Geral, diria Torquato Neto, na sua releitura do termo criado por Décio Pignatari para expressar esse país que vive ao mesmo tempo com a modernidade e o bumba-meu-boi.

Torquato, por que você se foi tão cedo? Por aqui  senti muito saudade de você!

Eu tinha apenas 9 anos quando Torquato tirou sua própria vida. Segundo ele, a ditadura tinha transformado o Brasil num país muito chato. Conformismo geral, burrice, poesia sem poesia, papo furado. Tudo parado. E eu cresci amando Torquato Neto sem saber, de fato, quem era Torquato Neto. Geleia geral (com Gilberto Gil), Go back (com Sérgio Britto), Let's play that (com Jards Macalé), Lost in the paradise (com Caetano Veloso), Louvação (com Gilberto Gil), Lua nova (com Edu Lobo), Minha Senhora (com Gilberto Gil), O bem, o mal (com Sérgio Britto), Pra dizer adeus (com Edu Lobo), Tudo muito azul (com Roberto Menescal), Vem menina (com Gilberto Gil), Zabelê (com Gilberto Gil). E tantas outras…Visão programática dos brasis dentro do Brasil. Revolução comportamental. Jornalista com o pé no cinema novo. Presença filosofante. Piauense um pouco baiano da Bahia de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa. Mas também carioca da Cinelândia, do Teatro Opinião e da Tijuca. Torquato da tradicional Adega Pérola, com seus mais de quarenta tipos de petiscos – ovos de codorna, peixes e frutos do mar, queijos e linguicinhas diversas, dentre outros petiscos.

É, Torquato…você estava certo. O Brasil se transformou numa gangorra de sentimentos do qual você fugiu - ora um poço de entusiasmo ora pura melancolia. Daqui de Maceió “você me chama, eu quero ir pro cinema. Você reclama, meu coração não contenta. Você me ama mas, de repente, a madrugada mudou….Só quero saber do que pode dar certo. Não tenho tempo a perder”!

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