Hashinaga: uma vida dedicada à colônia

Comoção, tradição e respeito à cultura japonesa marcaram ontem velório e sepultamento do radialista e colunista social

VARIEDADES - Oslaine Silva

Data 15/08/2015
Horário 09:04
 

Comoção, tradição e respeito à cultura japonesa marcaram ontem, o velório e sepultamento do radialista e colunista social Paulo Hashinaga, 83, que faleceu anteontem, vítima de uma pneumonia aguda. Ele foi velado na Seicho-No-Iê (Rua Araraquara, 41, Vila Tabajara), e sepultado no Cemitério Municipal São João Batista, em Presidente Prudente.

Ele, que durante 25 anos (desde 1990) escrevia, aos sábados a coluna Nipo-Brasileira, contemplando no Caderno 2 deste impresso ações sociais, festivas e esportivas da colônia japonesa regional, deixa hoje sua última contribuição (nesta semana, ela foi enviada diretamente do hospital).

"O falecimento do Paulo nos entristece, profundamente. Companheiro de tantos anos, era uma figura afável e generosa no trato com as pessoas, extremamente zeloso com o intensivo trabalho que desenvolvia, na importante exposição da cultura japonesa em toda região. Deixa-nos grandes exemplos de cidadania, razão para merecer o devido respeito e o reconhecimento de toda comunidade", ressalta Deodato da Silva, diretor administrativo de O Imparcial.

Jornal O Imparcial Ritual do incenso e reverência ao falecido, durante o culto

"A coluna no jornal e seu programa de rádio eram como filhos para ele. Desde que foi internado, ele fazia questão de editá-la, mesmo enquanto esteve no hospital, para que seus leitores não sentissem falta. Sentimos uma dor muito profunda com a sua partida, mas o que nos conforta é que mesmo nestes últimos momentos, ele permaneceu sereno, como sempre foi. Parece que ele está dormindo!", exclamou com a voz embargada, uma de suas filhas, Selma Hashinaga Itikawa.

A saudade é algo que fica para sempre, mas as boas lembranças tornam esses momentos especiais, como relata a primeira, de dez netos de Paulo Hashinaga, Ana Carolina Itikawa, 24. "Ele sempre foi tão doce, amoroso, carinhoso e mesmo estando distante, pois moramos na capital, ele sempre estava presente de alguma forma. Ele era fanático pelo São Paulo, e o último sonho que teve foi que seu time ganhava de 4 x 0 do Corinthians! Vou sentir muita falta do meu avô!", lamenta a neta.

 

Amizade


Entre os muitos amigos que fez ao longo de seus 83 anos, Yoshinori Yassuda, vice-presidente da Acae (Associação Cultural Agrícola e Esportiva) de Presidente Prudente, que esteve na celebração do culto de despedida, pontuou que Paulo Hashinaga "sempre foi um fiel representante da cultura japonesa e que dentro da Seicho-No-Iê, ele é o gran-mestre".

"Quem pratica seus ensinamentos obetrá todo sucesso na vida. Sua presença na Acae, todo seu apoio foram de suma importância. Ele fará muita falta, mas temos que buscar e colocar em prática tudo que ele nos ensinou", frisa Yassuda, enquanto o monge lia a sutra e os familiares e amigos realizavam após formarem uma fila indiana, o ritual do incenso e reverência ao falecido.

"Perdemos uma história viva da colônia japonesa. Deixará aberta uma enorme lacuna aos que acompanhavam sua coluna, seu programa, seu legado...", afirma Alberto Yukio Nakada, secretário da Aceam (Associação Cultural, Esportiva e Agrícola Nipo-Brasileira de Álvares Machado).

 

Último mês


Segundo a filha Selma, Paulo Hashinaga esteve hospitalizado no último mês por conta de insuficiência respiratória, após ter tomado uma forte chuva, no dia 11 de julho, véspera do 95º Shokonsai, quando foi até o aeroporto buscar o cônsul japonês que viria para a celebração, porém, não veio.

Conforme ela, na noite daquele sábado, teria um jantar na Acae, em homenagem ao seu pai, que havia aniversariado no dia 21 de junho. Ele fez questão de ir, e naquela ocasião, receberia uma placa de agradecimento do presidente Toshio Koketsu, presidente da Associação Cultural Nipo-Brasileira da Alta Sorocabana - Hansoro. No entanto, passou mal e precisou ser levado às pressas para o hospital. Chegou a ficar durante dez dias na UTI (Unidade de Tratamento Intensiva), foi para o quarto, depois teve alta, mas após quatro dias em casa, seu estado agravou o levando para um outro plano, na quinta-feira.

 

Trajetória


Natural de Promissão (SP), Paulo Hashinaga chegou à Rancharia, com apensa 1 ano de idade. Em 1954, veio para Prudente, onde seus pais construíram, em um terreno anexo ao da casa, um salão para funcionamento da Escola de Corte e Costura Hanayome Gakkô (1954 a 1965) que, onde também passou a ser a sede do Seicho-No-Iê, a qual continua até nos dias de hoje.

Em 1958, ele se casou com Taeko Shiraiwa (que faleceu em 2010). Hashinaga atuava na Seicho-No-Ie, ocupando diversos cargos: em 1957, como presidente regional das Associações dos Jovens e, em 1967, foi indicado como presidente da Associação das Fraternidades Soai Rengokai; em 1978, presidente da Associação da Prosperidade Sakaeru Rengokai; e, em 1983, supervisor doutrinário da Regional Sorocabana1, incentivou na 1ª Associação da Seicho-no-Ie dos Não-Nikkeys, considerada a primeira no Brasil.

Em 2009, foi homenageado pelo supremo presidente da Seicho-No-Ie, Masanobu Taniguchi do Japão, com o título de Comenda Círculo de Luz (Exterior). Foi homenageado em 2012, pela Câmara Municipal de Presidente Prudente, pela indicação do vereador Douglas Kato (PV), com votos de congratulação como radialista do programa "Melodias Nipônicas". Ele deixa quatro filhos - Selma, Edna, Carlos e Rosangela - e dez netos.
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