Hematologista alerta para períodos de maior risco de trombose na vida da mulher

SINOMAR CALMONA

Dra. Bruna Cerávolo detalhou no Simpósio Unilab os perigos da contracepção hormonal, os riscos na gestação e pós-parto e os cuidados com a reposição hormonal, defendendo uma avaliação individualizada para cada paciente

COLUNA - Sinomar

Data 16/10/2025
Horário 06:45
A hematologista, Bruna Cerávolo Pellegrini
A hematologista, Bruna Cerávolo Pellegrini

A hematologista, Dra. Bruna Cerávolo, iniciou sua palestra no 4º Simpósio Unilab apresentando números que ilustram a dimensão do problema. Enquanto a taxa de trombose na população geral é de 5 a cada 10.000 pessoas/ano, o uso de pílulas combinadas (com estrogênio e progesterona) eleva esse risco para 9 a cada 10.000. "O estrogênio, quando passa pelo fígado, aumenta a síntese dos fatores de coagulação e diminui as proteínas que impedem a coagulação, gerando um status de hipercoagulabilidade", explicou.
Um dos pontos altos da apresentação foi o esclarecimento sobre a investigação de trombofilia (tendência a coagular). A Dra. Bruna foi enfática: "De rotina, não existe a indicação de fazer pesquisa de trombofilia pra prescrever anticoncepcional". O motivo é que 40 a 50% das tromboses relacionadas à pílula ocorrem em mulheres sem trombofilia. O mais importante, segundo ela, é uma história clínica e familiar bem detalhada.

Gestação e pós-parto: os momentos de maior vigilância
Os riscos atingem seu pico durante a gestação e, principalmente, no pós-parto. A especialista apresentou dados contundentes: o risco sobe para 30 a cada 10.000 mulheres na gestação e salta para 300 a cada 10.000 no pós-parto.
Sobre as perdas gestacionais, a hematologista fez distinções cruciais. Perdas precoces (primeiro trimestre) são frequentes e, em sua maioria, relacionadas a fatores genéticos. Já as perdas tardias (após o segundo trimestre) têm um impacto maior e levantam mais suspeita de estarem ligadas a trombofilias, devido à possível formação de microtrombos na placenta.
A palestra também orientou quando investigar trombofilia na gestação: em mulheres com histórico pessoal de trombose, histórico familiar forte (parentes de primeiro grau), cardiopatias graves, obesidade e idade materna avançada. A profilaxia, quando necessária, é feita com heparina de baixo peso molecular (enoxaparina).

Puerpério: A fase de maior risco e a importância da prevenção
Dra. Bruna destacou o pós-parto como o momento de maior risco trombótico na vida da mulher. "Setenta a oitenta por cento dos eventos podem ser evitados", afirmou, incentivando a uso de protocolos e scores de avaliação de risco, como os da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).
A deambulação precoce (levantar e caminhar em até seis horas após o parto) foi citada como a principal medida preventiva. Outros fatores que aumentam o risco nessa fase incluem depressão pós-parto, hemorragia, transfusão de sangue, IMC acima de 40 e idade materna superior a 40 anos.

Climatério e reposição hormonal: via de administração é crucial
Ao abordar a TRH (Terapia de Reposição Hormonal) no climatério, a Dra. Bruna explicou que o cenário é diferente da contracepção. O estradiol usado na TRH é menos trombogênico que o etinilestradiol das pílulas, mas a paciente, por ser mais velha, já tem um risco basal aumentado.
A grande mensagem foi sobre a via de administração. "A via oral sabe-se que tem um risco quatro vezes maior de trombose... na via não oral, como gel, adesivo ou spray, não tem um aumento desse risco", citando um estudo francês recente. Para mulheres com histórico de trombose, a decisão de usar TRH deve ser individualizada e compartilhada, pesando riscos e benefícios, com preferência absoluta pelas vias transdérmicas.

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