Histórias inéditas são contadas em livro de ranchariense

Escritor Ulisses de Souza decidiu que publicaria suas vivências como jornalista após notar que os livros didáticos traziam fatos incompletos

VARIEDADES - MARCO VINICIUS ROPELLI

Data 25/07/2019
Horário 06:10
Paulo Miguel: Ulisses de Souza escreve sobre a história suprimida do jornalismo, que ele mesmo viveu
Paulo Miguel: Ulisses de Souza escreve sobre a história suprimida do jornalismo, que ele mesmo viveu

Certo dia, quando ajudava a neta estudar história, o jornalista de Rancharia Ulisses de Souza, 71 anos, notou que os fatos a respeito da invasão da PUC (Pontifícia Universidade Católica) em 1977, não estavam completos. Ele mesmo vivera o acontecimento histórico quando era repórter da Folha de S. Paulo. Este fato o fez recordar as inúmeras vezes em que as verdadeiras histórias tiveram que ser amenizadas para que fossem publicadas nos jornais, devido a uma autocensura praticada por grandes veículos de comunicação, a qual Ulisses procurou sempre combater. Foram essas memórias que inspiraram o artista a escrever seu único livro “Antes que a memória falhe – Histórias de bastidores do jornalismo que merecem ser contadas”, publicado de forma independente em 2016.

A obra literária reúne histórias de quando Ulisses era repórter da Folha de S. Paulo, dos tempos em que ele foi correspondente do jornal em Presidente Prudente, e crônicas que o autor escrevia e publicava quando foi, por oito anos, editor de um jornal impresso, também em Prudente. Os assuntos são diversos, e muitas das histórias, inéditas. Desde fatos não publicados por pressão da ditadura militar e da própria diretoria da Folha, relações dos jornalistas com movimentos sociais, como o estudantil e sindical, lembranças da greve dos jornalistas em 1979, até histórias sobre o conflito agrário no Pontal do Paranapanema e entrevistas exclusivas com o saudoso compositor, também de Rancharia, Dino Franco, e com o ex-jogador do Palmeiras, Polaco, que é irmão de Ulisses de Souza.

Segundo o escritor, a intenção primeira do livro é trazer para a sociedade atual os fatos completos e verdadeiros presentes em suas memórias. Para jornalistas, estudantes, e professores de comunicação, a intensão de Ulisses é fornecer um retrato do que foi a grande mídia, e suscitar discussões sobre o que, atualmente, ela é. Não é para menos. Envoltos nas narrativas do autor, estão nomes consagrados do jornalismo com quem trabalhou como Perseu Abramo, Mino Carta, Plinio Marcos, o cartunista Glauco e tantos outros.

Ulisses é jornalista de primeira, se orgulha ao dizer que foi “o primeiro a entrevistar o Florestan Fernandes depois da volta dele ao Brasil” quando o sociólogo brasileiro era proibido, pela censura, de falar. Recorda com ênfase que publicava matérias nos lendários jornais Opinião e Movimento, ambos críticos da ditadura militar e defensores ferrenhos da democracia.

Ulisses afirma ter tantas lembranças, que seriam necessários quatro ou mais livros para conta-las, e adianta o desejo de escrever sobre a história de sua cidade natal e onde vive, Rancharia. Por hora, sorte dos leitores Ulisses ter decidido que suas memórias merecem ser contadas. Pode-se dizer mais, pelo significado que carregam, merecem e devem ser lidas.

Serviço

Os exemplares do livro “Antes que a memória falhe – Histórias de bastidores do jornalismo que merecem ser contadas” de Ulisses de Souza são vendidos na banca do Tênis Clube de Presidente Prudente por R$ 10.

 

Saiba Mais

De acordo com o Jornal da PUC-SP, a invasão da Pontifícia Universidade Católica, campus de Monte Alegre, em 1977, ocorreu como reação das forças policiais ao Terceiro Encontro Nacional de Estudantes, evento que ocorreu mesmo tendo sido proibido pelo regime militar.

As tropas chegaram atirando bombas nos manifestantes. Após, invadiram o prédio da Universidade, onde quase mil pessoas, entre alunos, professores e funcionários, foram tirados com truculência de suas atividades e mantidos em um estacionamento do campus, onde ouviram do coronel responsável, Erasmo Dias, a conhecida frase, “É proibido falar. Só quem fala aqui sou eu”.

 


 

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