Jornaleiros resistem ao tempo e à era digital

Donos de bancas falam sobre as dificuldades, a concorrência com as tecnologias e o que fizeram para não fechar, mesmo em meio à pandemia: vendem de tudo um pouco

VARIEDADES - DA REDAÇÃO

Data 27/02/2022
Horário 09:07
Foto: O Imparcial
Gentil vai todos os domingos à banca buscar seus exemplares do Tex
Gentil vai todos os domingos à banca buscar seus exemplares do Tex

Os mais velhos devem bem se lembrar de como era agradável logo pela manhã, especialmente aos domingos, parar numa banca para pegar o seu periódico preferido para ler as notícias daquele dia! Por muitas décadas, as bancas de jornais e revistas foram paradas obrigatórias para muitas pessoas. Mas, com o passar do tempo e o avanço das tecnologias, que possibilitaram que se informassem pela internet, poucos destes estabelecimentos resistiram às adversidades, inovaram em alguns pontos e permanecem abertos ainda hoje. 
Há 18 anos no mercado, um destes jornaleiros sobreviventes em Presidente Prudente é Reinaldo Sanches Goulart, 55 anos, proprietário da Banca do Tênis. Há alguns anos observando e vivenciando esse avanço tecnológico de comunicação, além de investir em doces, balas, refrigerantes, produtos colecionáveis, dentre outras coisas que agreguem, ele foi à busca de organizadores de eventos para que colocassem convites para vender em sua banca. 
“Hoje sou um grande vendedor de convites ao ponto de mesmo que eu não os tenha de determinados eventos, as pessoas ligam para saber se tenho. Isso agregou novos clientes. A banca passa a ser conhecida. Eu vendo convites e eles divulgam a banca. Isso me ajudou demais até agora”, destaca o jornaleiro.
Osvaldo Menon, 66 anos, proprietário da Revistaria Rodoviária, em Martinópolis, resiste ao tempo há muito mais tempo que Reinaldo. São 35 anos de dedicação!
“Concordo totalmente com o Reinaldo quando ele diz que as tecnologias trouxeram mais dificuldades a nós jornaleiros. Muitos não resistiram. Eu sempre procurei trabalhar com variedade de produtos, hoje eu vendo crédito, chip de celular, bonés, carteiras, bijuterias e há algum tempo fiz um pedido de um aditivo no contrato e coloquei uma geladeira onde vendo água, refrigerantes, salgadinhos, doces de pote. Foi o que ajudou senão já tinha fechado”, garante Osvaldo Menon.

Pandemia: desafio ficou ainda maior

Segundo Reinaldo, com a pandemia o desafio dos jornaleiros ficou ainda maior. Isso porque de acordo com ele, as pessoas ficaram presas dentro de suas casas, e aquelas que ainda relutavam em usar um smartphone ou um computador, um notebook foram obrigadas a fazer isso. “O que acelerou e acentuou as dificuldades do nosso setor”, cita.
O que não aconteceu com Gentil Batista da Silva, 64 anos, um leitor diário do Tex que se tornou cliente de muitas bancas de revistas e jornisl aos 9 anos de idade. Ele se adaptou e vem acompanhando as tecnologias, mas não abre mão de sua leitura diária e com mais tempo aos fins de semana.

“FICO TRISTE AO VER TANTAS BANCAS FECHANDO, NÃO SE ENSINA MAIS AS CRIANÇAS A LER UM LIVRO OU UMA REVISTA. É UMA PENA. MUITO TRISTE MESMO. O HÁBITO DE LER É ESSENCIAL PARA A FORMAÇÃO DE UM INDIVÍDUO”
Gentil Batista da Silva

“Mesmo quando não tinha dinheiro para comprar algum exemplar, lá estava eu olhando as bancas. Fico triste ao ver tantas bancas fechando, não se ensina mais as crianças a ler um livro ou uma revista. É uma pena. Muito triste mesmo. O hábito de ler é essencial para a formação de um indivíduo”, enfatiza o profissional de acabamento da construção civil. 

Demanda caiu expressivamente

Quanto à diminuição nas vendas de jornais e revistas, Reinaldo diz que o próprio sistema de distribuição foi fazendo uma leitura do que era entregue às bancas, e automaticamente diminuindo a quantidade, visando não ter mais custos. “Porque o que vem da capital, por exemplo, tem o frete e quando sobra tem que pagar o frete de volta. Então como eles tentam fazer com que o nosso trabalho seja o mais produtivo possível, foram diminuindo essa quantidade”, explica. Em tempos mais rentáveis, ele diz que vendia até quatro, cinco vezes mais que hoje. 

Esforço que vale

Reinaldo e Osvaldo comentam que o número de cliente diminuiu ao longo dos tempos e com o avanço da tecnologia muitos migraram até sem querer, mas aprenderam. “Na pandemia também aconteceu de muitas editoras, revistas e jornais pararem de circular, outros passaram a ser apenas online”, dizem os dois.
Ambos também mencionam que tem muitas mães ainda hoje que se esforçam em incentivar os filhos à leitura levando-os até às bancas ou comprando para eles um gibi, um livro, uma revista interessante para tirá-los um pouco dos smartphones, computadores. 
Para Reinaldo, esse incentivo tem realmente que ser de pequenininho porque se os deixar crescerem e aprenderem a lidar com as tecnologias vai ser difícil fazê-los entender o prazer de pegar um livro, um gibi, um jornal nas mãos para ler.
“Eu me mantenho aqui, firme. Gosto de ser jornaleiro, gosto da minha clientela. Tenho clientes que se tornaram amigos pessoais. Infelizmente, perdi muitos amigos e clientes nessa pandemia, até devido a leitores de jornal principalmente, serem de idade. Mas vamos seguir em frente, pois pensando que quem gosta de vender bem um jornal, uma revista, tem que dar continuidade ao seu trabalho”, pontua Reinaldo.

O Imparcial

Reinaldo diz: “Gosto de ser jornaleiro, da minha clientela. Tenho clientes que se tornaram amigos pessoais”


Cedida

Revistaria Rodoviária de Osvaldo fica num ponto estratégico de Martinópolis

Publicidade

Veja também