JULIO BOTELHO: GRANDE NA BOLA E NO CARÁTER

Charanga Domingueira

COLUNA - Charanga Domingueira

Data 05/03/2018
Horário 11:15

Imaginem um coro uníssono com 117 mil vozes a vaiar por cinco minutos ininterruptos. Foi assim que a plateia do Maracanã reagiu naquele 13 de maio de 1959, quando se anunciou que jogaria Julinho e não Garrincha diante da Inglaterra. Júlio Botelho nunca foi campeão do Mundo e declinou da convocação para a Copa de 1958 por não estar jogando no Brasil. Caso aceitasse, Garrincha nem teria sido convocado. Julinho jogava na Fiorentina e alegou que não seria justo tomar o lugar de quem jogava no Brasil. Garrincha estaria de fora se Julinho assim não agisse, pois na verdade foi convocado como reserva de Joel e só entrou na Copa na terceira partida do Escrete nacional. Julinho, cabeça erguida, suportou com dignidade a vaia que durou uma eternidade. E logo aos sete minutos destroçou a defesa inglesa fazendo um gol que ficaria para a história. As mesmas vozes da vaia movimentaram os braços e aplaudiram delirantes. Para melhor ilustrar quem foi o grande Júlio Botelho, trago aqui um pronunciamento que colhi de Procópio Cardoso, zagueiro mineiro que formou naquele Palmeiras que vestiu a camisa do Brasil e derrotou o Uruguai por 3 a 0 na inauguração do Mineirão. Julinho era o ponteiro direito daquela equipe. “Em 1965 eu estava no Palmeiras e fomos disputar o torneio de Firenze onde estavam o Estrela Vermelha, da Iugoslávia, a Fiorentina e o poderoso Real Madrid, de Puskas e Di Stéfano. Julinho já era bem veterano e não quis ir. Mas era ídolo lá porque tinha levado a Fiorentina ao bi italiano. Desembarcamos às 20 horas e nossa estreia seria no dia seguinte. Os dirigentes da Fiorentina estavam nos esperando e perguntaram: ‘Cadê o Júlio?’. Informados da ausência, disseram que então não haveria torneio. Um diretor do Palmeiras saiu às pressas do aeroporto e foi ao consulado do Brasil. Resumindo: embarcaram Julinho no mesmo dia e, quando desembarcou na Itália na manhã do jogo, havia 30 mil pessoas na porta do hotel gritando o seu nome. Grito que se repetiu quando entramos em campo para enfrentar a própria Fiorentina. Eu nunca tinha visto nada igual. Vencemos e fomos para a decisão contra o Real Madrid. O Dudu dava o primeiro combate ao Puskas e ao Di Stéfano e eu ficava na sobra. O jogo estava 0 a 0, quando aos 43 minutos do 2º tempo Júlio pegou a bola, driblou para um lado e para o outro, passou por um punhado de marcadores e acertou o ângulo. Golaço. A torcida invadiu o campo e o jogo acabou ali. Fomos campeões e deixamos o estádio sob aplausos”. Narrei muitos jogos do grande Julinho e sobre o depoimento de Procópio Cardoso assino e dou fé.

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