Leitura. Para muitos jovens pode parecer chato, sinônimo de tédio, ou até mesmo de sono. Para outros, é um elemento prazeroso, que pode levá-los a viajar para outros mundos e épocas, conviver com personagens inesquecíveis, além de proporcionar reflexões sobre aspectos culturais e sociais da realidade. Educadores acreditam que o hábito e as formas de leitura se modificaram, devido ao advento das tecnologias, que exigem um consumo diferenciado de conteúdos e informações. Mas, mesmo diante deste cenário, ela ainda é considerada elemento fundamental para formação do senso crítico da população jovem e deve ser incentivada pela família e dentro da sala de aula.
Professores afirmam que a leitura se tornou hipertextual, por conta da busca pela rapidez, ou que agora o público adolescente foca em obras estereotipadas pelo mercado e, até mesmo, não procura por conteúdos significativos e que contribuam para a formação. A doutora em educação e coordenadora do curso de Pedagogia da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), Danielle Aparecida Nascimento dos Santos, fala que esse público tem preferido a utilização de infográficos, imagens e vídeos. “Neste sentido, a forma de ler o mundo mudou de maneira significativa e os ensinos básico e superior devem acompanhar essas mudanças, promovendo estratégias para que os jovens aproveitem as informações disponíveis na rede, para filtrar coisas importantes para a aprendizagem”, acredita.
O professor de língua portuguesa da Unoeste, Rogério do Amaral, por sua vez, fala que no ambiente tecnológico os jovens acabam optando por conteúdos rápidos e sempre reclamam quando precisam ler algo mais amplo. “A pouca leitura reflete depois em sala de aula, na interpretação do que leem, pois o nível de compreensão da maioria, às vezes, é baixo”, pontua. Já o professor de literatura do curso de Letras e Pedagogia da Unoeste, Fernando Teixeira Luiz, analisa que hoje existe um grande mercado editorial, que reflete em leitores que, muitas vezes, não conseguem adquirir uma leitura mais atenta e com uma bagagem cultural. “Falta uma mediação do professor para levar para o espaço escolar obras que não ofereçam ao leitor aquilo que eles esperam, mas que sejam mais imprevisíveis e que alarguem seus horizontes culturais”, frisa.
Perfis de leitura
Danielle fala que a preferência literária dos jovens atualmente depende do perfil de cada um. “Geralmente, as tramas que permitem foco em questões que fazem parte do universo ‘touch’ e que problematizem as relações humanas são as mais procuradas”. Para Fernando, as leituras feitas por esse público, muitas vezes, não são objetivas e não apresentam um aprofundamento de composição dos personagens. “Histórias que envolvem mais aventura têm chamado a atenção do público jovem, que dão preferência às sagas de identidade épica, com narrativas maiores e compostas pela jornada do herói”, declara.
Senso crítico
A leitura é considerada uma das principais contribuintes para a elaboração do senso crítico do ser humano. No jovem, isso é de uma maneira mais especial, pois ele se encontra no ápice do desenvolvimento de posicionamentos culturais e sociais sobre a realidade que o norteia. Danielle afirma que a apropriação de uma visão crítica é necessária e precisa ser compreendida como a lógica do século. “Hoje, pelos meios digitais, todos podem ter conhecimento, mas a habilidade e a atitude são geradas a partir de uma visão crítica das coisas”, ressalta.
Fernando fala que a literatura consegue “dar conta” de desenvolver uma visão crítica, pois acredita que um bom texto, por exemplo, “consegue humanizar o leitor e torná-lo sensível ao pensamento do outro”. Rogério explica que ser crítico é a capacidade de se posicionar ao que acontece em nossa volta, por isso os jovens precisam adquirir argumentos plausíveis para lutar pelo fim das diferenças na sociedade. “Os jovens, como futuros líderes da sociedade, vão substituir as pessoas de todos os segmentos que lideram a sociedade hoje, por isso precisam se capacitar e melhorar seu conhecimento para transformar o futuro, principalmente perante as situações de exclusão”, salienta.
Incentivo familiar
O estudante Matheus Rodolpho Lucas, 21 anos, desde pequeno, conviveu em meio aos livros por incentivo da avó. “Ela ia à biblioteca praticamente toda a semana e eu adorava acompanhá-la”. Ele conta que a biblioteca era grande e possuía uma sessão voltada para os livros infantis, os quais sempre “namorava com os olhos”. “Quando eu fiz 10 anos, era a idade mínima para ter um cartão de empréstimo de livros na biblioteca, então, minha vó me ajudou a fazer e foi aí que eu comecei a ler”, recorda.
O jovem fala que uma das obras que marcaram sua trajetória foram “Meu pé de laranja lima” e “O caçador de pipas”. “Foi um dos primeiros livros que li que não se tratava de fantasia, mas abordava temas mais fortes e reflexivos”, afirma. Matheus acredita que o contato com os livros deve ser algo mais frequente entre os jovens, por promover o pensamento analítico sobre o meio em que vivem. “Somos a próxima geração, que vai ditar as regras da sociedade dentro de alguns anos. Se não houver um senso crítico, as pessoas acabam virando massa de manobra perante demais intenções de cunho maldoso”, reflete.
Cedida
Desde pequeno, Matheus foi incentivado pela avó a ler
BENEFÍCIOS DA LEITURA
- Formação humanística;
- Ampliação do vocabulário;
- Aquisição da capacidade de interpretação;
- Melhoria significativa na produção textual;
- Proporciona elementos para formação da argumentação;
- Elaboração do senso crítico para com a realidade do universo;
- Conhecimento além do próprio contexto, como culturas e ideais;
- Transformação interna do leitor ao longo da vida, após a leitura de uma obra.
RANKING DE LIVROS MAIS VENDIDOS (GERAL)
- 1° Poesia que transforma. Autor: Bráulio Bessa
- 2° Textos cruéis demais para serem lidos rapidamente. Autor: TCD
- 3° Almas gêmeas. Autor: Nicholas Sparks
- 4° O conto de aia. Autor: Margaret Atwood
- 5° A revolução dos bichos. Autor: George Orwell
RANKING DE LIVROS MAIS VENDIDOS (INFANTO-JUVENIL)
- 1° As aventuras de Netoland com Luccas Neto. Autor: Luccas Neto
- 2° Felipe Neto: A vida por trás das câmeras. Autor: Felipe Neto
- 3° Para todos os garotos que já amei. Autor: Jenny Han
- 4° P.S. Ainda amo você. Autor: Jenny Han
- 5° Agora e para sempre, Lara Jean. Autor: Jenny Han
PERFIL
Cedida
Nome: Caroline Moura da Silva Luz
Idade: 20 anos
Coleção de livros: Mais de 100 obras
Quando você começou a se interessar pelos livros?
Meu avô é funcionário público. Grande parte da minha infância, ele trabalhou como zelador em escolas de Tarabai. Eu passava mais tempo na casa dele do que na dos meus pais, e vivia com ele nas bibliotecas das escolas. Lembro de ficar sentada em uma cadeira de madeira enorme, folheando os livros, só vendo as gravuras. Acho que é a minha primeira lembrança de contato com os livros. Meu pai também sempre me incentivou, por mais que ele não seja um leitor. Foi assim que eu comecei a me interessar. Depois, a paixão só fez aumentar.
Qual foi o livro que mais te impactou? Por quê?
Pergunta difícil para um leitor (risos). Tanta coisa impacta a gente, até mesmo coisas que para os outros podem ser banais. Às vezes, o jeito que o autor descreve um sentimento, por mais banal que seja, desajeita algumas coisas dentro de você. Eu chorei com Crime e Castigo, de Dostoiévski, com Capitães da Areia, de Jorge Amado, até com Paulo Coelho, que sofre tanto preconceito aqui no Brasil. Todo livro tem um impacto distinto, não gosto de pensar que um pode ser mais forte que outro.
Você sente que esse hábito é algo que falta hoje em dia nos jovens?
Sim, sinto que é algo que falta sim. E é uma deficiência que começa em casa e se fortalece nas escolas. Eu, por exemplo, devido ao incentivo que tive, tenho mais de 100 obras em casa, mas meu sonho mesmo é ter uma biblioteca. É difícil encontrar pessoas que leem por prazer. E ler por obrigação não é ler, né? Talvez a tecnologia reverta esse cenário daqui alguns ou muitos anos.
Quais benefícios a leitura trouxe para sua vida?
Diversos. A leitura melhorou meu olhar sobre mim, sobre os outros e sobre o mundo. Ler faz a gente entender que há uma multiplicidade de pessoas, de vidas, de histórias. E elas são importantes e tão válidas quanto a nossa. Ler nos ajuda muito a falar e escrever, mas, além de tudo, também colabora com nosso caráter. Acredito muito nisso, pois nos faz adquirir empatia por realidades diferentes, sejam elas projeções de um futuro possível ou relatos de um passado nem tão distante assim.
Qual a importância na criação de um senso crítico por parte da população jovem?
A criação de um senso crítico por parte da população jovem é importante. Ser crítico influencia na sua relação com as pessoas, pois você passa a não aceitar tudo que te impõem. Sobretudo, você acaba se tornando mais maleável, principalmente para saber entender o outro. Sem falar que um livro pode influenciar toda uma visão política, por exemplo.
DICAS DE LIVROS
Divulgação
Nome: O conto de aia
Autor: Margaret Atwood
Editora: Rocco
Sinopse: Um romance de 1985, conta a história de um futuro próximo que tem um cenário onde as universidades não existem, assim como a imprensa, filmes e livros. Ninguém possui direito à defesa, pois quando são considerados criminosos, são fuzilados e pendurados em praça pública como exemplo para a população. A trama se passa nos Estados Unidos da América, que acabou se tornando a república Gilead, um Estado teocrático e totalitário. As mulheres são as principais vítimas e são dividas em categorias, com funções específicas, como esposas, marthas, salvadoras e aias. Offred coube à categoria de aia e “serve” ao governo somente na função de procriar. Antes da instauração da nova república, Offred era casada e tinha uma filha, mas com o novo regime, foi separada da família. A autora leva o leitor a refletir sobre liberdade, direitos civis, poder, a fragilidade do mundo tal qual o conhecemos, o futuro e, principalmente, o presente.
Divulgação
Nome: O homem de giz
Autor: C. J. Tudor
Editora: Intrínseca
Sinopse: Na infância, Eddie costumava andar de bicicleta com os amigos pela vizinhança. Os meninos tinham um código secreto que consistia em homenzinhos rabiscados no asfalto, com mensagens que só eles entendiam. Até que um dia, um destes desenhos leva as crianças até um corpo desmembrado em um bosque. Depois disso, nada mais é como antes. Já adulto, Eddie se esforça para superar o passado, mas um belo dia, ele e os amigos recebem um aviso com o desenho de um homem de giz enforcado. Quando um dos amigos aparece morto, Eddie se dá conta de que precisa descobrir o que houve há 30 anos.
AGENDA
HOJE
Evento: Encontro Leia Mulheres. Com as mediadoras Camila Assad e Larissa Dutra. Clube de livro inspirado na proposta da escritora Joanna Walsh, que consistia em incentivar a leitura de escritoras mulheres. O livro escolhido para o mês é “Olhos D’água”, de Conceição Evaristo.
Local: Quiosque do Sesc Thermas de Presidente Prudente
Endereço: Rua Alberto Peters, 111, Jardim das Rosas
Horário: 19h
Convite: Gratuito
SEXTA-FEIRA
Evento: As donas do palco. Neste show, as cantoras de Presidente Prudente, Elly Guimarães, Paula Guedes, Deborah Matsu, Be Ogata e Josy Barbosa se unem para apresentar um repertório de suas próprias composições que passeiam pelo pop, rock, MPB e samba.
Local: Área de Convivência do Sesc Thermas de Presidente Prudente
Endereço: Rua Alberto Peters, 111, Jardim das Rosas
Horário: 16h
Convite: Gratuito
SÁBADO
Evento: Show One-Hit Wonders
Local: Área de Convivência do Sesc Thermas de Presidente Prudente
Endereço: Rua Alberto Peters, 111, Jardim das Rosas
Horário: 16h
Convite: Gratuito
TERÇA-FEIRA
Evento: Cine Bosque – Filme: “Naquela época e hoje”
Local: Bosque do Sesc Thermas de Presidente Prudente
Endereço: Rua Alberto Peters, 111, Jardim das Rosas
Horário: 19h30
Convite: Gratuito
