Missão humanitária em reserva indígena marca vida de universitários de Prudente

Estudantes de Medicina da Unoeste estiveram em Dourados, no MS, para oferecer atendimentos de saúde a comunidades em situação de vulnerabilidade social e sanitária

PRUDENTE - DA REDAÇÃO

Data 28/07/2025
Horário 16:57
Foto: Cedida
Atendimentos foram realizados em vários locais da reserva
Atendimentos foram realizados em vários locais da reserva

“Transformador” é o melhor adjetivo para definir tudo o que Bruna Girotto Dornelas, Isadora Lobato de Mauro, Lucas Barbosa de Oliveira e Maria Fernanda Monteiro Guirado – alunos de Medicina da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista) – viveram durante uma missão humanitária na reserva indígena de Dourados, no Mato Grosso do Sul. De volta a Presidente Prudente, eles dizem que a experiência de realizar atendimentos que possibilitaram mais saúde e qualidade de vida permitiu uma “mudança como ser humano”.

A experiência foi vivida entre 11 e 18 de julho, durante a Missão Univida Dourados 2025, organizada pela Univida (Associação Humanitária Universitários em Defesa da Vida) e a Diocese de Jales (SP).

Foto: Cedida - Alunos colaboraram com atendimentos de saúde e serviços para indígenas

Bruna Girotto Dornellas conta que a missão revelou-se “uma experiência incrível”. “Encontramos uma população carente e humilde, com muitas necessidades, mas que transborda simpatia, generosidade e amor. Fui especialmente tocada pelo carinho das crianças, uma conexão tão forte e sincera que me fez repensar, com mais profundidade, a especialidade médica que desejo seguir futuramente”, conta Bruna sobre a missão.

Ela também detalha como era a rotina na reserva. “Nossos dias começavam cedo, com a divisão das tarefas entre os grupos de voluntários. Às 5h da manhã, iniciávamos a preparação do café e, logo após, participávamos de uma breve oração conduzida por um dos grupos, marcando o início das atividades. As equipes se deslocavam para aldeias indígenas mais afastadas e escolas locais, onde eram realizados os atendimentos médicos, pedagógicos, odontológicos e fisioterapêuticos”, relembra.

Bruna relata que os atendimentos aconteciam em qualquer lugar disponível. “Salas de aula, pátios ou mesmo a céu aberto. Todos trabalhavam da melhor forma com os recursos disponíveis. O pessoal da odontologia, por exemplo, improvisava cuspideiras com caixinhas de leite; na medicina, usávamos criatividade para elaborar receitas ilustradas com carimbos de sol e lua, facilitando o entendimento de pacientes não alfabetizados. Quando as palavras faltavam, recorremos à mímica, sempre acompanhada de sorrisos, empatia e muita entrega”, aponta.

Um dos momentos mais especiais, segundo ela, era o almoço. “A refeição era partilhada entre voluntários e indígenas, nos unindo em um só ambiente e fortalecendo laços”, recorda.

A estudante de Medicina relata que também foram celebradas missas (com participação facultativa) e houve momentos de confraternização entre os voluntários, uma oportunidade de reforçar conexões.

“Conheci pessoas e profissionais inspiradores e criamos laços que pareciam vindos de outras vidas. Sou profundamente grata a cada um que conheci, pois essa experiência não teria sido a mesma sem eles”, denota.

Foto: Cedida - Projeto Univida Dourados foi realizado de 11 a 18 de julho

Medicina socialmente engajada

Para Isadora Lobato de Mauro, participar desta missão a transformou dos pontos de vista humano e profissional.

“A iniciativa teve como objetivo principal prestar atendimento em saúde e levar doações às comunidades indígenas que vivem em situação de vulnerabilidade social e sanitária. Levamos alimentos, roupas, itens de higiene e medicamentos. Mais do que isso: levamos escuta, cuidado e presença”, conta.

Ela disse que pôde vivenciar de perto a realidade dessas populações, marcada por dificuldades de acesso a serviços básicos, como saúde, saneamento e educação.

“A experiência me fez refletir sobre o papel social da saúde e a importância de práticas profissionais humanizadas e culturalmente sensíveis. Atuar nesse contexto exigiu não apenas conhecimento técnico, mas empatia, escuta ativa e respeito às tradições e modos de vida das comunidades indígenas”, diz.

Na bagagem de volta, mais do que histórias. “Voltei com a certeza de que ações como essa não apenas beneficiam quem as recebe, mas também transformam profundamente quem participa. Essa vivência fortaleceu ainda mais meu compromisso com a medicina socialmente engajada e com a construção de uma sociedade mais justa e igualitária”.

Foto: Cedida - Missão na reserva indígena de Dourados já está na 14ª edição

Olhar ao próximo

Lucas Barbosa de Oliveira expõe que, no início da missão, o padre disse uma frase que o marcou profundamente: “Ao tocarmos o próximo, também somos tocados”. “Foi exatamente isso que vivi nesses dias. Em meio a tanta vulnerabilidade social, prestamos atendimentos médicos à população, com recursos extremamente limitados. Ainda assim, era visível a gratidão das pessoas por serem ouvidas e cuidadas com respeito”, ressalta.

Lucas também diz que todos tiveram a oportunidade de conhecer um pouco da cultura dos povos originários e ouvir histórias de vida, algo que enriqueceu ainda mais a experiência.

“Apesar de terem sido dias de trabalho intenso, essa missão foi extremamente significativa para mim. Aprendemos, na prática, a olhar para o próximo, a compreender suas dores e sofrimentos e a oferecer um atendimento humanizado”, avalia.

Foto: Cedida - Refeição era partilhada entre voluntários e indígenas

O que foi a Missão Univida?

Segundo o projeto, a Univida se propõe a levar jovens universitários a “uma vivência extraordinária, colocando-os em contato com populações em risco social, na expectativa que respondam a esta experiência humanitária tornando-se profissionais conscientes de seu papel social”.

Este ano, foram cerca de 350 voluntários selecionados para as ações na reserva indígena de Dourados. Os estudantes de Prudente integraram a seleção por meio de parceria do comitê universitário local da IFMSA (International Federation of Medical Students Associations), uma organização internacional com estudantes de medicina de todo o mundo.

Segundo a Prefeitura de Dourados, aproximadamente 20 mil indígenas das etnias Guarani, Kaiowá e Terena vivem nas aldeias Jaguapiru e Bororó, na reserva de Dourados, em uma área de 3,5 mil hectares.

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