Modulação não farmacológica da fome

Jair Rodrigues Garcia Júnior

Fome e saciedade são sinais fisiológicos que indicam a necessidade comer e de parar de comer, respectivamente. Apetite é ativado pelos sentidos do olfato, paladar e visão, portanto influenciado por fatores emocionais (desejo) sociais e ambientais. O controle da fome está no hipotálamo, uma estrutura do sistema nervoso que conta com grupos específicos de neurônios com funções de centro de comando da fome e da saciedade. Trata-se de sensações fisiológicas obviamente contrárias, por isso, quando um centro é ativado, o outro e inibido.

CONTROLE DO CONSUMO
Em geral, as sensações de fome e saciedade são muito bem reguladas, porém não funcionam muito bem justamente nas pessoas que mais dependem delas, os sobrepesados e obesos. E a razão é justamente o excesso de peso que, em geral, está associado com o consumo de gorduras saturadas (fontes animais), que causam inflamação e disfunção dos neurônios da saciedade.

CONTROLE FARMACOLÓGICO
Os medicamentos mais utilizados atualmente para emagrecimento (Mounjaro, Zepbound, Ozempic, Wegovy etc) são anorexígenos (inibem centro da fome), fazendo com que o obeso fique sem comer ou coma pouco, sem que represente um grande sacrifício. Alguns usuários relatam que esses medicamentos inibem também a vontade por álcool. Outros medicamentos aceleram o metabolismo e o gasto de energia, tornando ainda mais eficiente o processo. 

PROMESSAS ESTUDADAS
O hormônio leptina foi uma promessa em meados da década de 1990 com seu efeito emagrecedor em camundongos (capa das revistas Nature e Science), mas em poucos anos se tornou frustação. A citocina inibitória de macrófagos 1 (MIC-1) despertou o interesse em 2007, quando foi identificada em células tumorais (próstata, mama, pâncreas e colon) como responsável pelo emagrecimento acelerado (anorexia e caquexia) dos pacientes em estágio avançado. Em 2025 a Orforgliprona, uma molécula não-peptídica, agonista do receptor do peptídeo semelhante ao glucagon 1 (GLP-1) passou a ser estuda com resultados até melhores que o Mounjaro e semelhantes.

Exercício físico estimula secreção de adrenalina e noradrenalina, que têm efeito anorexígeno, inibindo a fome no hipotálamo e provocando a termogênese

ANOREXÍGENOS FISIOLÓGICOS
Além dos anorexígenos farmacológicos, a fome pode ser “desligada” simplesmente consumindo alimentos e praticando exercícios. Ao consumir alimentos (de acordo com sua necessidade) o intestino secreta colecistocinina (CCK), peptídeo YY (PYY), peptídeo semelhante ao glucagon 1 (GLP-1) e peptídeo insulinotrópico dependente de glicose (GIP) que, junto com a glicose e insulina, chegam até o hipotálamo e inibem a fome.

POTENTE ANOREXÍGENO E TERMOGÊNICO
Exercício físico estimula as glândulas adrenais a secretarem adrenalina e noradrenalina, os quais têm efeito anorexígeno, inibindo a fome no hipotálamo e provocando a termogênese (acelera o metabolismo). É o mesmo efeito das anfetaminas, que foram prescritas para o emagrecimento durante muitos anos, até a proibição pela Anvisa em 2011. Ao contrário dos medicamentos, os hormônios naturais são secretados em doses exatas, são mais eficientes e livres de efeitos colaterais. Portanto, programe sua dieta e sua prática de exercícios para contar com os efeitos termogênico e modulador da fome dos anorexígenos fisiológicos.

Referências

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