Mulheres: entre a farda e a maternidade

Militares precisaram abdicar de alguns desejos para manter o equilíbrio entre profissão e família

REGIÃO - ROBERTO KAWASAKI

Data 09/05/2021
Horário 05:27
Foto: Cedida
Mariane é casada com Marcelo e tem duas filhas
Mariane é casada com Marcelo e tem duas filhas

Estar na linha de frente no combate à criminalidade não é uma vocação de todos. Ela exige ainda mais do profissional quando o dever não é apenas o de zelar pela segurança da comunidade, mas também à da própria família. A soldado PM Lígia, de Martinópolis, e 3º sargento PM Mariane, de Presidente Venceslau, ambas do 8º Baep (Batalhão de Ações Especiais de Polícia), tiveram que enfrentar o amor pela profissão, juntamente com a dádiva de serem mães. O resultado não poderia ser melhor, pois as tarefas se completaram.

“Antes de ter filhos a pessoa é mais destemida. Mas, depois que eles nascem, começa a enxergar a vida de outra forma, ela muda”. É o que afirma a sargento Mariane Jardim Soares, 38 anos, mãe da Isadora, 6 anos, e da Manuela, de 5 meses. A carreira militar começou aos 20 anos de idade, época em que saiu da região e foi morar em Osasco (SP), quando anos depois, voltou para perto de casa, onde subiu de patente. Na época ela ainda não tinha filhos, mas, com o passar do tempo, o espírito de mãe começou a falar mais alto.

“Minha vontade era prestar prova para sargento [que demanda um período na capital], mas ao mesmo tempo, queria ser mãe. Então veio aquele impasse entre ficar bem na vida profissional e também na pessoal. Foi aí que tive que abdicar de algumas coisas, resolvi engravidar e tive minha primeira filha”, lembra. Casada com o 1º sargento PM Marcelo Cardoso, do Corpo de Bombeiros, tinha interesse em ter mais uma criança, mas seguiu com os planos profissionais e voltou para São Paulo para fazer o curso de sargento.

“Atrasei novamente a vontade de engravidar, porque não tinha como deixar duas pequenas com meu marido”, lamenta. Durante o tempo em que esteve fora, viajava todos os finais de semana para estar perto da mais velha. De volta para a casa, a família cresceu novamente, com o nascimento da Manuela “Nunca tive medo de trabalhar na polícia. Agora, mãe, sou mais cautelosa porque tenho mais duas vidas para cuidar”, explica. “Por mais que hoje as mulheres trabalhem fora, o período que estiverem em casa precisa ser de interação, fazer a lição escolar junto dos filhos, se entregar por inteiro, focar neles”.

Missão que não é fácil

A soldado PM Lígia de Souza Ribeiro Berbert, 35 anos, vivencia a mesma realidade de Mariane. Porém, quando ingressou na PM, em 2014, já era mãe do Leonardo, hoje com 12 anos, e da Melissa, 9. A policial, que atua no Canil, é casada com o cabo PM Danilo da Silva Berbert, da Cavalaria. Nos dois anos em que trabalhou na capital, ficou com o coração na mão por deixar as crianças em Martinópolis - saudade que aumentava a cada contato que fazia com os pequenos.

“Fácil não é não, mas força de vontade em dar o melhor para eles era maior”, afirma. “Eles ficaram com meu esposo, minha sogra e minha mãe também ajudaram. No começo, eu trabalhava na viatura, mas quando me deram a oportunidade de atuar no administrativo, conseguia viajar para a casa aos finais de semana”, lembra Lígia. No retorno, o diálogo era sempre importante. “Era o tempo inteiro comigo. Tinham até aquela preocupação quando eu saía, porque pensavam que estava indo trabalhar”.

Para a soldado, a maternidade contribui com seu trabalho, a exemplo da empatia. “Ser policial feminina e dona de casa não é missão muito fácil, porque todos os dias a gente vence obstáculos, como emocionais, precisa ter equilíbrio. Existem ocorrências que envolvem crianças, e a gente se coloca no lugar da mãe, compara as idades, tem toda essa cautela em lidar. Não é fácil não! [risos]”. “Ser mãe é uma dádiva de Deus. Desejo de todo o coração que Ele abençoe ricamente a vida de cada uma delas, e daquelas que estão tentando ter filhos. É só esperar o tempo Dele, que tudo se realiza”, deseja Lígia.

Foto: Cedida

Lígia é mãe e trabalha no Canil do Baep

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