Museu incendiado armazenava fósseis de dinossauro encontrados em PP

Brasilotitan nemophagus, descoberto em 2000 e descrito em 2013 pela revista científica Zootaxa, pode ter sido destruído pelo incêndio que atingiu o local no início da noite de domingo

PRUDENTE - GABRIEL BUOSI

Data 04/09/2018
Horário 04:00
Arquivo Pessoal/William Nava - Paleontólogo segura o ramo mandibular da espécie em viagem ao Museu
Arquivo Pessoal/William Nava - Paleontólogo segura o ramo mandibular da espécie em viagem ao Museu

Os fósseis de uma espécie de dinossauro, o Brasilotitan nemophagus, encontrados em Presidente Prudente em janeiro do ano de 2000, estavam armazenados no Museu Nacional do Rio de Janeiro e podem ter sido destruídos pelo incêndio que atingiu o local no início da noite de domingo. Conforme informações do paleontólogo do Museu de Paleontologia de Marília, William Nava, o titanossauro “juvenil” foi coletado por ele inicialmente nas redondezas de Prudente no início do milênio e descrito em 2013 pela revista científica Zootaxa.

“A destruição pelo fogo de todo - ou quase todo - acervo existente nas dependências do museu retrata o descaso que temos no Brasil quando o assunto é a ciência, cultura e educação. Um acervo, diga-se conhecimento, construído em 200 anos, por centenas ou milhares de pessoas que deixaram sua parcela de contribuição, de uma forma ou de outra, é simplesmente perdido em duas horas de fogo, sem que nada se possa fazer agora, a não ser lamentar”.

Por uma triste coincidência, há exatos cinco anos da data do incêndio, no dia 2 de setembro de 2013, este diário publicava a história da nova espécie de titanossauro que poderia considerar Prudente como a sua cidade de origem. Na ocasião, foi apontado pela reportagem que o animal teria vivido na região no período Cretáceo e a descoberta teria partido de uma parceria entre William e a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Foi revelado que o dinossauro encontrado teria de oito a nove metros de comprimento e era considerada a menor espécie brasileira de saurópode, como eram conhecidos os dinossauros quadrúpedes de pescoço longo e comedores de plantas.

A espécie, como noticiado, foi detectada com base em fragmentos da mandíbula, coluna, pelve e outros ossos pertencentes a uma criatura que viveu há aproximadamente 80 milhões de anos, na altura do km 571 da Rodovia Raposo Tavares (SP-270), em Prudente. Na ocasião, os fósseis já se encontravam no Museu Nacional do Rio de Janeiro. “Apuramos que o Brasilotitan teria sido um titanossauro juvenil - ainda em crescimento -, com base em um fragmento de ramo mandibular com alguns - ou um - dente aflorando, e outras características peculiares em alguns dos ossos, indicando um indivíduo juvenil. Era importante, claro, principalmente por ter sido preservado em meio às rochas esse ramo mandibular”, expõe Nava.

Os fósseis ainda estavam no Museu Nacional do Rio de Janeiro, conforme o paleontólogo, já que um professor estaria querendo estudar ou comprar um dos dentes do titanossauro. De qualquer forma, ele informa que havia entrado em contato há pouco tempo visando a possibilidade de trazer os fósseis de volta para o Museu de Paleontologia de Marília. “Uma pena, pois não deu tempo, embora não se tenha 100% de certeza que os fósseis, de um modo geral, tenham sido todos destruídos pelo fogo. Há de se aguardar os pesquisadores adentrarem as salas, agora queimadas, para verificar o que restou, se é que restou algum material que não tenha sido atingido pelo incêndio”.

 

O incêndio

Conforme a Agência Brasil, o incêndio de grandes proporções atingiu o museu no início da noite de domingo, na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, zona norte da capital fluminense. O prédio histórico tem dois séculos e, inclusive, foi residência da família real brasileira. “Pesquisadores nutrem a esperança de que parte do acervo, justamente as peças mais raras e valiosas, possa ter sido salva do fogo dentro de cofres e armários de aço especiais. Entre essas, está o crânio de Luzia, o fóssil humano mais antigo encontrado no Brasil, com mais de 12 mil anos”.

Ainda de acordo com a Agência Brasil, os esqueletos de dinossauros que estavam em exposição no local, em sua maioria, eram réplicas, conforme informou ao portal o pesquisador Helder de Paula Silva, um dos responsáveis pela coleção de paleontologia. “Grande parte, com maior valor científico, ficava dentro de um armário de aço compactador, que é fechado e pode resistir a impactos e a altas temperaturas, desde que não sejam extremos”.

 

“SAIBA MAIS”

Conforme a Agência Brasil, o Museu Nacional do Rio de Janeiro é a mais antiga instituição histórica do país, sendo fundado por D. João VI, em 1818. O local é vinculado à UFRJ com perfil acadêmico e científico. O local teria, inclusive, sido sede da primeira Assembleia Constituinte Republicana de 1889 a 1891, antes de ser destinado ao uso de museu, em 1892. O edifício é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. “No acervo, com cerca de 20 milhões de itens, há diversificação nas peças, pois reúne coleções de geologia, paleontologia, botânica, zoologia e arqueologia. Há, ainda, uma biblioteca com livros com obras raras”.

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