Nenhuma dor deve ser motivo de piada

EDITORIAL -

Data 02/12/2020
Horário 04:15

Repercute em âmbito nacional o caso do restaurante prudentino Primata Parrilla, que utilizou suas redes sociais para publicar conteúdo ofensivo, satirizando crimes de ampla repercussão, como os casos Isabella Nardoni e Eliza Samudio; e de mazelas sociais, como a fome na África. As postagens se tornaram instantaneamente alvo de revolta dentro e fora das telas, mobilizando consumidores a denunciarem o estabelecimento para instituições competentes, bem como solicitarem a retirada da conta do estabelecimento do Instagram e do iFood, plataforma de delivery de refeições.
Conforme noticiado por O Imparcial, o restaurante entrou na mira do Procon (Programa de Proteção e Defesa do Consumidor) e Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária), que abriram processos contra as publicidades do estabelecimento. Ontem, a Fundação Procon multou em R$ 1.134,85 o local, que agora tem o prazo de 15 dias para apresentar defesa. De acordo com o órgão, o conteúdo é “discriminatório, incita a violência e revela desrespeito à dignidade da pessoa humana e à instituição da família”. Esta não é a primeira avaliação negativa partida das instituições. A titular da DDM (Delegacia de Defesa da Mulher), Denise Akagui Simonato, descreveu o conteúdo como “grosseiro e de extremo mau gosto”.
A multa aplicada pelo Procon traz justiça, mas não ameniza a postura adotada pelo restaurante nas redes sociais. Sob o pretexto de fazer “humor negro”, o estabelecimento recorre a crimes sórdidos que tiraram pessoas de suas famílias e destruíram lares, além de zombar de um problema tão sério quanto a fome, que atinge milhões de pessoas no mundo. O humor é sempre bem-vindo e pode ser usado como uma estratégia altamente eficiente para promover as vendas, mas nenhuma piada deve ter como base a dor alheia e o sofrimento de mães e pais que tiveram seus filhos e filhas arrancados do seio doméstico por meio da violência.
O restaurante diz não se arrepender da sua conduta. Defende-o como liberdade de expressão. Diante disso, a alternativa é sermos combativos o suficiente para torná-lo um caso isolado e para que os demais restaurantes da cidade o vejam como um exemplo do que não praticar. É preciso investir em publicidades bem-humoradas, mas que sejam inteligentes e que arranquem o riso dos consumidores sem desrespeitar, em momento algum, a dignidade da pessoa humana.
 

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