No seu dia, docentes cobram melhores salários e condições

Em meio à desvalorização profissional, professores de Prudente resistem aos desafios diários por amor à carreira; profissionais falam sobre “jornadas triplas e violência nas salas de aula”

PRUDENTE - ANDRÉ ESTEVES

Data 15/10/2017
Horário 13:27
José Reis, Maria José: “Faltam recursos”
José Reis, Maria José: “Faltam recursos”

Embora o dia 15 de outubro seja a data escolhida para enaltecer a função do professor, são poucos os motivos para comemoração. Muito pelo contrário. Hoje, profissionais do magistério aproveitam a oportunidade para propor uma reflexão sobre os percalços enfrentados em suas rotinas de trabalho, como “falta de valorização da classe, baixos salários, jornadas triplas e até mesmo violência nas salas de aula”. A única resposta para a persistência perante tais desafios é o amor pelo que fazem e a crença no poder transformador da educação. Munidos disso, a categoria luta diariamente para conquistar direitos e condições mais justas, no entanto, nem sempre é ouvida.

É o caso da subsede regional da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), cujas demandas parecem estar longe de serem atendidas. Há anos, a entidade representativa reivindica reajuste salarial e mais investimentos em infraestrutura, uma vez que as escolas ainda sofrem com a falta de equipamentos e materiais. De acordo com o coordenador regional do sindicato, William Hugo Correia dos Santos, há unidades que “não possuem impressoras ou folhas de sulfite e lidam com um número limitado de livros”. Outra preocupação é a “violência à qual os docentes estão expostos e a superlotação das salas, que prejudica o rendimento escolar”.

Para o representante, a classe foi “esquecida” pelo governo e “não há qualquer perspectiva de melhora”. “Nós estamos sempre conversando com o secretário estadual da Educação [José Renato Nalini], mas embora ele nos ouça, não apresenta nenhuma solução”, comenta. Nesse contexto, William aponta que as subsedes se reunirão hoje, a partir das 14h, na Praça Alexandre de Gusmão, em São Paulo, para alertar a comunidade acerca das mazelas que recaem sobre a educação.

 

Rede municipal

Em contrapartida, há mobilizações em que os resultados são rápidos. No começo de setembro, o Sintrapp (Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Presidente Prudente e Região) deliberou uma greve para professores e educadores infantis da rede municipal, propondo a exoneração do até então titular da Seduc (Secretaria Municipal da Educação), Antonio Luiz Mello, por “assédio moral”, e o cancelamento de um pregão para a contratação de uma empresa terceirizada para auditar os gastos com pessoal e composição da folha de pagamento dos funcionários do magistério.

Entretanto, a paralisação, marcada para o dia 12, não chegou a ocorrer. Um dia após a decisão de greve, o prefeito de Prudente, Nelson Roberto Bugalho (PTB), determinou a suspensão temporária do processo licitatório, enquanto, na segunda-feira seguinte, Mello deixou, por conta própria, o cargo que ocupava na pasta municipal. Em seu lugar, assumiu interinamente a assessora de secretaria, Sônia Maria Pelegrini.

 

“Um leão por dia”

A coordenadora de escola, Maria José Pazini Alessi, lamenta a desvalorização da classe, uma vez que, segundo ela, o professor ainda é o responsável pela formação dos alunos e futuros profissionais. “É uma categoria desprivilegiada, para a qual o governo não presta muita atenção. Contudo, ainda cremos lá no fundo que é com a educação que o Brasil vai mudar”, pondera. Para Maria José, a falta de recursos é um dos principais fatores que comprometem a atuação dos docentes e, diante disso, estes fazem o que estão ao seu alcance ou além.

A professora Adriana de Fátima Silva Brancatti argumenta que não dispõe de uma máquina de cópias na unidade onde atua e, a fim de manter um padrão digno na hora de elaborar as suas avaliações, precisa arcar com as despesas das impressões. “A sociedade pensa que somos privilegiados por termos um cargo público, mas não possuímos direito sequer a FGTS [Fundo de Garantia do Tempo de Serviço] e, quando nos aposentamos, é com uma mão na frente e outra atrás. Infelizmente, não veem o tormento que passamos para dar conta do recado. Para manter a escola em andamento, é preciso matar um leão por dia”, relata.

Apesar de ser um caminho percorrido com amor, o que Adriana sente no final é tristeza, já que, além da infraestrutura escassa, os docentes têm que se desdobrar para atender de 40 a 42 alunos de uma única vez. Somado a isso, na escola onde trabalha, há um número elevado de alunos com deficiência, que merecem uma atenção maior, mas, “muitas vezes, não a recebem em virtude da superlotação”.

Adriana conta que a situação é percebida até mesmo pelos estudantes, que já descartam a ideia de um dia se tornarem professores. “Das cinco salas onde dou aula, quatro alunos demonstraram interesse na profissão. E, mais para frente, podem até mudar de ideia se pensarem melhor. Chegará um dia no qual não comemoraremos mais o dia 15 de outubro, por que qual jovem vai querer ser professor?”, questiona.

 

Dentro do limite

Informada sobre as principais demandas da categoria, a dirigente regional de Ensino, Naide Videira Braga, destaca que, com relação ao problema de superlotação, a lei determina um limite máximo de 38 alunos por sala no ensino fundamental e de 44 no médio, de modo que, mesmo diante da alta procura em unidades localizadas em bairros populosos, há o esforço a fim de manter o número dentro do preconizado.

Ressalta que, com o intuito de conter a violência no ambiente educacional, a pasta estadual recentemente publicou uma resolução que trata sobre a instituição da figura do mediador – professor devidamente capacitado para resolver conflitos entre alunos ou até mesmo entre professores e alunos. Este profissional, todavia, é inserido somente em escolas com altos índices de violência. “Aquelas que não apresentam registro de conflitos muito fortes não serão contempladas. Há, sim, insubordinação e indisciplina, mas isso a gente entende que deve ser resolvido em casa. Na ausência do mediador, o vice-diretor será capacitado para essa função”, esclarece.

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