Nossa “in-sanidade” cotidiana

Em uma mesa redonda do 28º Congresso Brasileiro de Psicanálise: “Laços: o eu e o mundo”, o psicanalista Elias da Rocha Barros disse o seguinte: “Sanidade é algo que se conquista a cada momento”. Algo trabalhoso que implica na construção pessoal de instrumentos de comunicação internos.
A psicanálise trouxe a contribuição de que não somos o sujeito racional que a filosofia cartesiana idealizou. Nós, apesar de todo o cuidado (que muitos de nós temos) para sermos “bons”, “competentes” e “equilibrados”, vez ou outra podemos ser atravessados de sopetão por emoções descontroladas, despertadas por fatos corriqueiros ou supreendentes, que nos assustam e podem nos derrubar, nos destruir ou machucar alguém.
Junto com nosso mundo emocional, estamos articulados com o social, ou seja, com outras pessoas e grupos. Vivemos em uma sociedade onde tudo é muito instável e o espaço coletivo tem sido empobrecido por fortes narrativas individualistas e darwinistas: “sobrevive o mais forte e pronto”. 
Em uma tentativa de compreender a condição humana, o psicanalista Marcelo Viñar citou o escritor Amos Oz e ilustrou que o ser humano pode ser visto como uma península: uma parte de si-mesmo está amarrada ao continente e ao coletivo de pertencimento e a outra parte da península ou de nós está aberta ao oceano e ao desassossego.
Então como nos manter “saudáveis” com nossa realidade psíquica e social? Eis um grande desafio!
Por isso me tocou esta fala do psicanalista Elias que citei inicialmente, pois a sanidade não é algo que se completa e conclui, mas sim trabalho diário que se inscreve com vida, atenção, prazer e desejo.
E nessa caminhada para estar realmente viva e não uma “morta-viva”, um zumbi ambulante; a minha experiência, os meus processos analíticos e auto-analíticos, bem como, as leituras realizadas, me possibilitaram compreender que precisamos saber transitar entre a nossa solidão e o outro, entre o prazer e a dor, cuidar dos nossos vínculos e não perder a fé. Ou seja, seguindo nosso talentoso Gilberto Gil, podemos terminar com esse refrão: “Andá com fé eu vou, que a fé não costuma faiá”.
 

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