Lembro quando engravidei pela primeira vez. A surpresa foi muito grande. As expectativas floresceram e as fantasias tomaram proporções gigantescas. Desejava o bebê, com todas as minhas forças. Sonhava dormindo e em vigília. Enfim, o pesadelo despertou-me, com uma potente cólica. Ainda não era a hora em tornar-me, mãe. Fiquei inconformada. E que dor! Fui elaborando lentamente a grande perda do tão sonhado, desejado e esperado bebê. Tive orientações em como preparar-me melhor, para novas chances.
Após seis meses, engravidei novamente. Havia muitas preocupações. Isso foi inevitável. Temia um novo aborto espontâneo. E, assim, fui escolhendo formas para gestar a tão esperada criança que em breve nasceria. O terror em perdê-la acompanhou-me. Era tão desejada, que evitava movimentar-me. Brinquei de “estátua” a gestação inteira. Temia espirrar, comer demais ou comer de menos. Uma certa forma narcísica foi minha escolha, fez-me permanecer encolhida internamente, onde a realidade exterior foi abandonada totalmente.
Entrei em meu próprio útero. Ensimesmada, deletei o resto. Fiquei em parceria com ela, durante nove meses. O parto foi normal, nasceu “espirrando logo”, para fora. Queria vir logo para meus braços. Confesso que quase adoeci pelo medo, desejava que passasse e nascesse logo. Preferi manter toda essa preocupação em sigilo. Não compartilhei ou expressei, tinha insônia, pois fantasiava que ao dormir, poderia prensá-la ou machucá-la. Escrevia num caderno, todas as minhas emoções, persecutoriedades, fantasias, felicidade, enfim, dialogava com ela.
Hoje posso analisar melhor, com mais experiência e descrevê-la com tranquilidade. Muitas vezes, passamos por experiências muito difíceis, tristes e avassaladoras. Hoje, compreendo que foram necessárias para a chegada de tão esperado sonho. Há perdas e ganhos. Difícil entender a perda. Desesperamos muito e ficamos cegos aos possíveis desdobramentos e possibilidades de um futuro promissor e fértil.
Após esse aborto espontâneo, engravidei três vezes e hoje tenho três filhos maravilhosos. O amor de mãe é um amor que não se mede. Desde que nosso bebê nasce, nós mães, nos preocupamos até a “eternidade”. Recebo muitas mães em meu consultório, ansiosas e com sofrimentos pelas dificuldades e desconhecimentos em como proceder em determinadas situações originadas do cotidiano.
A mãe deseja que sua cria seja eternamente feliz. Quer protegê-la de forma ininterrupta. Deseja colocá-la dentro de uma “bolha-útero”, evitando assim, que as frustrações inerentes à vida, jamais apareçam. A felicidade é restrita somente a alguns momentos durante nossa trajetória de vida. Ela não é permanente. O infante apresenta em seu desenvolvimento certo medo, criando muitas fantasias. Os “desmames” são necessários para a evolução em direção à maturidade. Somente em meio aos enfrentamentos de frustrações, bem como sua aceitação, elaborações e realizações, poderemos desfrutar de muitos momentos de felicidade junto aos nossos filhos.
Muita força para todas as mães! Ser mãe é um ato sublime, pois envolve coragem, garra, desprendimento, perdas, danos e ganhos. Tornar-se mãe é um caminho sem volta, em direção ao novo, desafios, conquistas e ao inusitado. Parabéns, mamães!