O Brasil que não educou o seu povo —  e a Ásia que planejou o futuro

OPINIÃO - Marcelo Creste

Data 06/11/2025
Horário 04:30

Há uma diferença fundamental entre o modo como o Brasil e os países asiáticos pensaram o seu desenvolvimento.
Enquanto as elites brasileiras trataram a educação como um gasto e o povo como um problema, as elites asiáticas a transformaram em estratégia nacional — e o povo, em solução.
Essa diferença de mentalidade explica muito do que somos e do que eles se tornaram. Hoje, o Brasil ainda exporta soja, minério e carne. A Ásia exporta chips, robôs e tecnologia de ponta. O contraste não é apenas econômico — é civilizatório.
Desde o período colonial, as elites brasileiras — políticas e econômicas — jamais tiveram um projeto de país, apenas um projeto de poder.
O objetivo sempre foi manter privilégios, controlar o Estado e administrar o presente, nunca planejar o futuro.
Vivemos de ciclos: açúcar, café, borracha, minério, soja. Em todos eles, o lucro foi concentrado e o saber, negligenciado.
Aqui, a educação pública foi tratada como formalidade, não como prioridade. Faltou visão e sobrou medo: medo de que o povo instruído deixasse de obedecer. Temos, até hoje, o reflexo colonial de quem acredita que o país é patrimônio de poucos — e que “para o povo, qualquer coisa está bom”.
Na Ásia, a história foi outra. Depois de guerras, fome e destruição, países como Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Singapura e, mais recentemente, China fizeram da educação o eixo central do desenvolvimento. Enquanto o Brasil falava em “investir no futuro”, eles investiram de fato, com planos de 20, 30, 40 anos.
Esses países formaram professores, engenheiros, técnicos e cientistas. Integraram escolas, universidades e indústrias. Criaram uma cultura de mérito, disciplina e continuidade — valores que aqui ainda parecem exóticos.
O resultado é que a Ásia não apenas produz barato: produz melhor.  Tem não só mão de obra abundante, mas qualificada e tecnológica. E é por isso que as fábricas ocidentais migraram para lá e não para nós. 
A diferença não está na geografia, mas na mentalidade das elites. Enquanto as elites asiáticas entenderam que educar o povo era fortalecer o país, as brasileiras preferiram mantê-lo dependente — e, com isso, enfraqueceram o próprio Estado que as sustenta.
Lá, educar é estratégia de soberania; aqui, é retórica de campanha.
O sociólogo coreano, Ha-Joon Chang, resume bem essa diferença: “A educação foi o verdadeiro motor do milagre asiático, não os baixos salários.” As elites da Ásia compreenderam o óbvio: sem ciência, não há poder; sem escola, não há futuro.
O Brasil ainda não entendeu que a educação não é uma despesa, mas o único caminho de emancipação nacional.
E enquanto nossas elites continuarem pensando apenas no próximo mandato ou no próximo contrato, continuaremos condenados ao atraso — exportando matéria-prima e importando inteligência.
A Ásia planejou o futuro. O Brasil ainda improvisa o presente.
 

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