O delegado

Sandro Villar

O Espadachim, um cronista a favor do colete e contra o culote

CRÔNICA - Sandro Villar

Data 21/03/2023
Horário 05:30

Ninguém aguentava mais a violência dos bandidos na cidadezinha. Roubos, furtos e incêndios em órgãos públicos e carros dos moradores tornaram-se rotineiros. Ou recorrentes, para usar uma palavra da moda (no Brasil tem disso). Dia sim e dia também sim acontecia alguma barbaridade. Barbárie pura.
Foi aí que a população começou a participar de reuniões com a finalidade de encontrar um jeito - ou meios - para encarar os ladrões, traficantes e o diabo a quatro. Ou a cinco, sei lá. "Não tem polícia aqui e o delegado da cidade grande só aparece de vez em quando. Ele só analisa a situação e fica por isso mesmo. Nada de providências", disse dona Arminda, a líder comunitária. 
Ao ouvir dona Arminda, um bêbado também emitiu o seu parecer: "É isso aí, minha líder, precisamos tomar uma atitude", falou o cachaceiro, mas a "atitude" em questão era uma ironia. Ou seja, precisamos tomar uma dose de pinga. Como já conhecia a figura, dona Arminda não deu a mínima para o engraçadinho.
"Na semana que vem vou para a capital atrás de um delegado, pois nossa amada cidadezinha não pode ficar à mercê de criminosos", falou toda orgulhosa. Ela viajou e conversou com o governador. Ele explicou que a criminalidade cresceu tanto que todos os delegados estavam sobrecarregados de tanto serviço. Afinal, combater o crime, ainda mais com parcos recursos, não é tarefa fácil.
Mas, depois, o governador se lembrou de um delegado que estava "encostado". "Se a senhora aceitar, transfiro-o para a sua cidade", prometeu a autoridade. Claro, ela aceitou. Em seguida, a mulher entrou em contato com o delegado. Levou um baita susto. Era um anão de fala grossa que impunha respeito. O pequeno policial aceitou a empreitada e não pestanejou (palavra bonita, hein?).
Fez as malas, pegou as armas de grosso calibre, entrou em seu jipe adaptado e foi para a cidadezinha "voando baixo" (ele tinha mania de Lewis Hamilton). A exemplo da líder comunitária, os moradores também ficaram surpresos com o "pequeno grande homem".
Os bandidos, então, nem se fala. Debocharam, caçoaram, mangaram, tiraram o sarro, enfim, riram muito. Detonaram e desqualificaram o delegado de "pequeno porte", que portava, como disse, armas de grosso calibre. Só que o delegado não era um qualquer. Tratava-se de um profissional experiente e teria feito cursos até no FBI.
Sua primeira providência foi treinar alguns moradores, que já tinham armas em casa. Eles seriam seus colaboradores na guerra contra o crime. Foi difícil, treinamento exaustivo. Na primeira ação dos bandidos, após a chegada do delegado de "pequeno porte", ele e seus auxiliares botaram o bando pra correr. 
A cidadezinha festejou, mas bandido é bandido e sempre convém ficar alerta. A quadrilha tentou novo ataque, mas também desta vez entrou bem. O delegado e seus auxiliares mataram quase todos os meliantes. Alguns fugiram, mas o chefe resolveu ficar para acertar as contas com o policial nanico. O chefe propôs um duelo ao delegado, que aceitou de bate-pronto. Rua apinhada de gente, parecendo o Calçadão, e lá estavam os dois no centro do logradouro público.
"Nossa, um dos dois vai comer capim pela raiz", disse um rapaz, falando, é claro, uma obviedade. De um lado o bandidão, troncudo para cachorro e com mais de 1,90 de altura. Do outro lado, um delegado anão de 1,50 de altura e franzino também pra cachorro".
Suspense na rua. Os dois a postos prontos para sacar suas armas. "Preparados?", gritou um gaiato. Mal ele terminou de falar e os tiros foram disparados. O policial, que foi trapezista, deu um salto pro lado e não foi baleado. Já o bandido recebeu um tiro entre os olhos e dele nunca mais se ouviu falar. Já o anão foi aclamado como herói e, mais tarde, pediu dona Arminda em casamento. Ela aceitou e, mais tarde, correu o boato de que ele poderia ser nomeado o novo delegado-geral da Polícia Civil.

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