O distanciamento virtual é real

OPINIÃO - Matheus Teixeira

Data 10/07/2020
Horário 04:15

Durante a quarentena, o que nos resta é passear pelos ambientes virtuais para ficarmos mais perto de quem amamos e até mesmo de quem a tecnologia permite que conheçamos. No entanto, a reflexão de hoje é: a internet aproxima ou distancia as pessoas umas das outras?
Muitas vezes, as ações no chamado “ciberespaço” parecem ser como gritos dados acima da atmosfera terrestre: tem muita gente ali embaixo, porém eles vão ser tão silenciosos que ninguém vai ser capaz de ouvi-los. Na internet, igualmente, os usuários dificilmente estabelecem diálogos; há, no entanto, um constante emaranhado de monólogos buscando atenção, como brados ecoados no gigantesco universo.
Isso fica mais claro de compreender quando pensamos nas redes sociais virtuais, como Facebook, Instagram, Twitter e, mais recentemente, o TikTok… Os internautas curtem, compartilham e comentam. Entretanto, tudo é tão solitário! Pouco há de interação real, quando de verdade alguém estabelece um significado para a publicação do outro e interage (mesmo!) com ele, criando conexão real entre ambos.
Em meio a “kkkkk”, emojis, figurinhas, memes, respostas prontas, botões que automatizam tudo e verborragia, o ser humano vai alimentando a “solidão compartilhada”, explanada pela psicóloga norte-americana Sherry Turkle, professora de Estudos Sociais de Ciência e Tecnologia no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Ou seja, quanto mais conectado à internet você estiver, mais sua sensação de solidão aumentará, porque o internauta fica próximo sem estar íntimo.
Significa que estamos objetificando as relações humanas sem nem ao menos nos darmos conta disto? Logo, a culpada é a tecnologia? Os culpados somos nós?
Pense na seguinte situação: quando você segue, na internet, um indivíduo muito famoso ou um CEO de uma multinacional poderosa, efetivamente um deles se dá a oportunidade de conhecer você, dão-te atenção? Com muita sorte e insistência, você conseguirá no máximo uma mísera curtida em seu comentário bajulador, provavelmente dada por um social media dele.
Afinal, respondendo de quem é a “culpa”, entendo que a tecnologia não seja a culpada. O ser humano que não presta atenção no outro em uma tela digital também dará importância zero pessoalmente. A diferença é que no cara a cara não há como “bloquear” o semelhante nem “visualizar e não responder”. A tendência é que ele finja que te ouviu. Repense, portanto, com quem você usa seu tempo, importe-se com aqueles que de fato queiram construir relações fortes, sejam no mundo físico e/ou no virtual.
 

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