O esporte ao serviço da paz

Charanga Domingueira

COLUNA - Charanga Domingueira

Data 28/05/2018
Horário 08:41

Sempre fui vidrado em cinema. Sou daqueles que quando gosta de um filme os vê por quantas vezes for possível. Mas, é preciso dizer que gosto de cinema que transmita enredos inteligíveis. Vejo cinema como entretenimento e diversão, não como um teorema a ser desvendado. Já vi “Casablanca” não sei quantas vezes. Cada vez o filme parece melhor. Humphrey Bogart e Ingrid Bergman. Que dupla! O mesmo com “E o Vento Levou” ou “Depois do Vendaval”. Clássicos do cinema agora são raros e os efeitos são mais importantes que enredos ou interpretações. Quando em minha adolescência vi muitos filmes em que norte-americanos, no auge de Hollywood, faziam extraordinário uso da propaganda para se tornarem os heróis do planeta. Lembro-me de um filme em que o galã Gregory Peck reclama de estar guerreando na Coréia e ter sido ferido por uma bala russa.

Não tínhamos por aqui filmes russos senão veríamos um russo reclamando ter sido ferido por uma bala norte-americana. A Coréia foi um dos países mais sofridos do planeta. De 1910 a 1945 foi ocupada militarmente pelo Japão e sofreu horrores. Há pouco tempo o Imperador do Japão pediu perdão pelas atrocidades cometidas. A libertação da Coréia só viria depois que as bombas atômicas decidiram a guerra entre Estados Unidos e Japão explodindo em Hiroshima e Nakasaki em agosto de 1945. Então a Coréia se libertou? Mentira! Americanos e russos tinham que continuar fazendo uso de suas armas e a União Soviética invadiu a Coreia pelo norte e os Estados Unidos fizeram o mesmo pelo sul. E veio a guerra da Coreia que até hoje não terminou. Duraram os combates entre 1950 e 1953 e cessaram num acordo bilateral sem que uma paz verdadeira fosse proclamada.

O recente encontro do presidente sul-coreano, Moon Jae-in com o ditador norte-coreano King Jong-un trás um hálito de esperança para a humanidade. Mesmo com toda a desconfiança que o mundo deposita no mesmo. Julgo que foi algo muito importante para o planeta todo. É indiscutível que as ameaças desabridas de Donald Trump tiveram influência nesse simbólico encontro entre os líderes coreanos. Mas, o esporte foi o ponto que marcou o rito de passagem. Interessante que o entendimento no passado entre Estados Unidos e China foi iniciado quando Richard Nixon despachou para a China uma delegação americana de tênis de mesa, esporte que os chineses adoram. Agora, o convite da Coréia do Sul para que a do norte enviasse às recentes olimpíadas uma delegação de ginástica olímpica foi o ponto de início do esperado entendimento. Hosanas ao esporte. E paz na terra entre os homens de boa vontade.      

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