O futebol e a vida

OPINIÃO - Sandro Rogério dos Santos

Data 20/11/2017
Horário 10:43

No ano da graça de 2017 sobejam desgraças nos noticiários local, regional, nacional e mundial. Em parte, há espaços em demasia nos meios de comunicação (até nos novíssimos meios, como os catapultados pela internet) para os “homens que mordem os cães” – refiro-me aqui à “regra” sobre a qual se um cão morder um homem, é normal, mas se um homem morder um cão, será notícia. Habituei-me a conferir o noticiário em jornais, revistas, sites, blogs, rádios e televisão. É cada dia mais penoso esse exercício.

Acompanhar o noticiário em tempo real gera ansiedade, visão parcial e quase sempre desinformação. Já experimentei nessa era de “fla-flu” político-partidário, mas não só, seguir os passos de determinado fato. As versões são tantas, as idas e vindas são tantas, os desmentidos e os recuos do que se disse são tantos que o cidadão mediano não tem tempo ou condições de abstrair e de se formar por meio dessa informação. Acredito na força da livre expressão, na liberdade de imprensa. Quanto mais, melhor, ainda que restem confusões.

As antigas “famosas brigas de bar” – aquele desentendimento advindo da cabeça quente e da provocação gratuita–migraram de espaços. Os campos de futebol atualmente têm regras e policiamento para inibir que a paixão cega pelo time cegue outros por meio da violência ‘gratuita’. Há jogos com torcida única, há multas para os times cujas torcidas humilham ou agridem com palavras ‘politicamente incorretas’ o adversário. Mas as arenas de debates e embates continuam ativas. As pessoas continuam esquentando o sangue e chamando outras para a briga. Assuntos e motivos não faltam.

Faz-me pensar e escrever essas ideias o principal destaque da semana: a conquista do Sport Club Corinthians Paulista. A sétima conquista do Campeonato Brasileiro faz do time paulista mais visto, reconhecido como força popular e granjeia certamente imensa quantidade de novos torcedores. Não raro os corintianos veem-se como uma religião cuja principal torcida é a ‘gaviões da fiel’. Torço para outra agremiação. Meu amor por ela não me turva a visão nem me faz enxergar inimigos em todos os cantos do mundo, embora me permita, às vezes, um gracejo.

Não escrevi nem disse nada sobre as coisas que vi, li, ouvi nesses dias. Faço-o agora e com a vontade de observar um comportamento além das quatro linhas do gramado. A impressão é a de que mais se comemorou a derrota dos adversários mais encarniçados que a própria vitória. É claro que teve festas, fogos, bebidas, samba pelo campeonato conquistado. As reações, contudo, estiveram muito polarizadas nos rivais que perderam. Fogos soltados para incomodar (e lembrar!) o vizinho cujo time fracassou. Mensagens postadas para reforçar que o seu é o pior, sempre derrotado...

Não seria muito azedume na hora de celebrar a conquista? Não seria uma forma torta de sentir prazer e de expressá-lo publicamente? Não seria um jeito de intolerância nas relações quotidianas com quem diverge no pensamento e na prática, mesmo que num círculo de amizades? Não estaríamos reforçando esquemas doentios que nos impossibilitam de viver em harmonia uns com os outros? Não estou ressentido pela perda do meu time. Afinal, tivesse ele jogado com regularidade e obtido mais resultados positivos estaria em melhor situação. E ele não está mal na tabela.

Aos poucos, a fumaça disseminada na sociedade também em coisas de somenos importância obstaculiza a visão, embota o pensamento e extravasa em sentimentos deletérios contra outros. É salutar comemorar e fraternizar. O adversário merece o respeito sempre. No campo e fora dele. Afinal, existe vida para além do futebol.

Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!

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