O historiador se foi, viva o historiador!

OPINIÃO - Jayro G. Melo

Data 29/09/2020
Horário 07:00

Faleceu, no dia 26 de setembro de 2020, o professor e historiador Dióres Santos Abreu. 
Vim a Presidente Prudente em 1971. Eu tinha sido contratado para dar aulas de história na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Professor Dióres, então chefe do Departamento de Ciências Sociais, recebeu-me com muita atenção e respeito. Alguns dias depois, percebi seu empenho em levar-me ao aprimoramento de minha formação, pois eu era apenas graduado em História, e o departamento precisava qualificar seus quadros para alcançar maior produtividade. 
Eis porque certo dia ele me disse: “Jayro, há um curso muito bom de francês. Conversei com o diretor e ele concederá um bom desconto para você.” Era um curso da Aliança Francesa dirigido por Messier Condé. Frequentei o curso por um tempo, até que Dióres novamente me procurou. “Jayro, você vai fazer mestrado na USP [Universidade de São Paulo], com o professor Eduardo de Oliveira França. Prepare-se para a prova de seleção”. Agradeci e rumei para São Paulo. Dali em diante, segui carreira acadêmica até o doutorado e a livre-docência. Foram anos de muito trabalho e muita luta para garantir ensino de qualidade. Dióres estava sempre pronto para orientar e liderar. Ele era um norteador, um timoneiro.
De outro lado, Dióres era o historiador da cidade, pois sua tese de doutorado intitulada “Formação histórica de uma cidade pioneira paulista: Presidente Prudente” é e sempre será de consulta obrigatória para quem pretende pesquisar a dinâmica da história local. Ninguém, até então, havia feito pesquisa profunda sobre nossas origens urbanas. Além dessa obra, ele produziu inúmeros artigos publicados em revistas especializadas. São textos resultantes de pesquisas realizadas por ele sobre história e identidades regionais.
Pelas razões apontadas acima é que eu presto minha homenagem ao homem que considero um dos mais competentes conhecedores e produtores da nossa dinâmica social. Ele escreveu sobre o passado e soube viver o presente como ninguém. Certo dia, após a aposentadoria, presenteou-me com todos seus artigos publicados em livro. Percebi, então, o que estava querendo dizer: “Um dia não estarei mais aqui, mas minha obra permanecerá”. 
Eis porque intitulei este texto parodiando a máxima da realeza “Le roi est mort, vive le roi”. Na realeza, novo rei era imediatamente entronizado para garantir a continuidade do poder real. No caso do nosso historiador, ele se foi, no entanto, permanece vivo em sua obra historiográfica e na memória de seus familiares e amigos.
 

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