O mais alto dos sons é o silêncio

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 18/01/2022
Horário 06:30

Pense comigo: se uma árvore muito grande cai em uma floresta, mas não há ninguém por perto, qual é o som que ela faz?
Intrigante, né? Pois é sobre isso que quero hoje falar com vocês. Sobre sons, mas especialmente o mais alto deles, que é o silêncio. 
Eu estou convencido do poder do silêncio. Seja pelo que já vivi, seja pelo que já li em praticamente todas as boas obras que versam sobre o comportamento humano. Da Bíblia aos textos mais clássicos da filosofia, sempre há uma reflexão importante sobre o silêncio.
Para o filósofo Friedrich Nietzsche, por exemplo, o silêncio é a mais complexa profilaxia, ou seja, prevenção, da alma. Em “Assim falou Zaratrusta”, obra genial do alemão, há uma frase que precisa ser pensada rotineiramente: “São as palavras mais silenciosas as que trazem a tempestade”.
Na Bíblia, o livro de Provérbios dedica muitos escritos ao silêncio e quase todos à capacidade de adquirir sabedoria com ele. 
Fato é que nada é mais penetrante do que a decisão de não emitir qualquer nota sonora apesar de tudo exigir que isso aconteça. 
Apesar também de ser o silêncio um contraponto muito forte diante da nossa exímia capacidade de comunicação. Especialmente em cenários de mídias digitais e facilidade de troca de informações, ficar calado é quase um exercício de paciência, para não dizer impossível em muitos casos.
E para te trazer luz neste mundo barulhento, vou listar três benefícios do silêncio:

1 – Fonte de sabedoria

A capacidade de ficar quieto nos traz sabedoria e é por ela que devemos pensar em falar menos e observar mais. Eu tenho o hábito de não entrar em discussões acaloradas só por entrar. Às vezes até me arrependo e me pego de madrugada acordado pensando: “Por que não disse isso para aquela pessoa na hora da discussão?”. Dá até vontade de reabrir o barraco. Mas a gente sabe que no final das contas, ter ficado quieto foi a melhor saída para não magoar e também para nos conhecer melhor.

2 – Antídoto contra a raiva

O silêncio é o melhor antídoto contra a raiva, que na verdade é aquele momento em que a boca é mais rápida que o cérebro. E aí você entra em desgraça porque simplesmente não conseguiu manter a calma. Em uma aula de comportamento humano que fiz, ouvi a seguinte frase: “Você é senhor do que não disse e escravo do que já falou.” Pense nisso antes de sair por aí dizendo o que pensa a torto e a direito. E lembre-se de que tudo que diz, seja em fala ou por escrito, será julgado para todo o sempre. 

3 – Boa resposta

Não dizer nada durante uma discussão ou após ter sofrido qualquer tipo de ataque não quer dizer que você não tenha dado uma boa resposta. Mais um paradoxo, só que muito real. O silêncio tem a capacidade até irritante de dar respostas certas, nas horas certas. Você sabia quando sua mãe ou seu pai estava bravo com você, não sabia? Normalmente era quando nada era dito. Somente o olhar bastava. E assim é conosco também. Saiba dar a resposta no mesmo nível da agressão, mesmo que ele não seja audível.  

Por fim, e retomando a pergunta do início da crônica, sobre o barulho da árvore na floresta, a resposta é sábia também: somente deixe entrar em seus ouvidos o barulho que lhe atinge. 
 

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