O mundo dos idiotas em massa

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 30/11/2021
Horário 07:00

Não sei vocês, mas eu ainda fico admirado com quem tenta doutrinar alguém em aplicativos como WhatsApp ou nas redes sociais. Que situação mais chata, cafona e babaca uma pessoa tentar convencer a outra de uma ideologia política, religiosa, pessoal ou qualquer outra coisa. 
De repente, você participa de um grupo, vem alguém e manda aquela propaganda política mais ofensiva do mundo, como se todos estivessem de acordo com o belo pensamento que tem. 
Ou de repente também, você recebe grátis uma fórmula com os “7 grandes segredos para mudar de vida”! Como se fosse fácil, assim. 
Aliás, vamos concordar: para tudo! Mano, como nunca pensamos nisso? Queimem os livros, as bíblias e para o inferno com o conhecimento milenar da civilização humana! Os 7 segredos é que são o “ó do borogodó”.
Nas minhas sessões de análise, tenho debatido muito este aspecto humano. A gente está cercado de seres que vivem, acreditam e manipulam outros somente com o que conheço como “reflexões de almanaque”, que não mais são do que estas frases soltas por aí, que a gente acha escrito em agendas, sites de motivação barata ou de autoajuda. 
Picaretas de plantão saem todo dia pela manhã com estas armas para influenciar mentes mais fracas. Quando encontram um idiota, dá negócio.
Neste ponto, o que eu acabo mesmo concordando é que realmente existe uma quantidade imensa de indivíduos ignorantes que vaga pela nossa sociedade. É a tal da “massa”, que o sociólogo e filósofo francês, Jean Baudrillard, consegue definir muito bem no livro “À Sombra das Maiorias Silenciosas” (1993, Ed. Brasiliense). 
Diz Baudrillard que a massa até parece ser bem politizada, mas troca uma boa discussão política ou a educação dos filhos por um jogo de futebol. E eu completo também: troca tudo por um capítulo de série na Netflix ou algumas horas enfiada em pornografia barata e vídeos retardados no WhatsApp.
Bom senso é tudo aquilo que não nos compromete de passar aos outros um atestado de mediocridade. 
Assim, muitas das atitudes diárias, seja no trabalho, na escola ou em qualquer espaço público como igreja e clubes, deveriam passar por um exame de consciência que ao final terminaria com a resposta a algumas perguntas: 

•    “É uma atitude séria?”;
•    “Eu realmente preciso disto?”;
•    “Quem disse isso de fato?”
•    “Estou tranquilo em afirmar isto ou preciso estudar mais?”;
•    “Eu penso assim mesmo ou fui influenciado por um vídeo engraçadinho?”;
•    “Eu tenho condições de assumir as consequências dos meus atos por pensar e agir assim?”;
•    “As pessoas com quem eu convivo precisam mesmo ver, ler ou ouvir isto?”;
•    “Há risco de prejudicar alguém com o que vou fazer?”

Eu não estou livre de ser medíocre em alguns momentos do dia, mas eu consigo dormir bem ao pensar que pelo menos presto muita atenção ao que chega até mim, com quem eu falo e se o que penso é realmente fruto da minha percepção crítica ou vou apenas reproduzir idiotices.
Confesso que assim, a minha chance de ser ridículo diminui consideravelmente.
 

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