O rio da minha aldeia

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 21/08/2022
Horário 04:30

Eu agradeço a oportunidade de escrever para vocês todas as semanas. Explico. 
Trabalho de segunda a quinta-feira feira no centro nervoso da cidade de São Paulo. Tenho tido a oportunidade de conhecer as unidades da Unesp (Universidade Estadual Paulista) distribuídas por 23 cidades de diferentes regiões paulistas. É uma atividade muito intensa. 
Comecei essa semana que passou desembarcando no Aeroporto Internacional de Guarulhos para participar de um seminário lá na Faculdade de Engenharia da Unesp de Guaratinguetá. Depois fiquei dois dias na sede da reitoria da universidade na cidade de São Paulo. Na quinta-feira, participei de uma reunião em Registro, retornei para a capital no mesmo dia. E na sexta-feira, antes de viajar para Presidente Prudente, passei pela Faculdade de Medicina de Botucatu. Nunca tive a oportunidade de formar uma visão de conjunto da Unesp como agora. São muitas histórias de inovação, dedicação, troca de experiências e de sonhos.
Tenho fascínio pelo curso dos rios. Lá perto de Guaratinguetá passei ao lado do famoso Rio Paraíba do Sul, que desde os tempos do Império teve importância vital para a formação econômica do Brasil. Para chegar em Registro, percorri o extenso vale do Rio Ribeira de Iguape por onde se ramificaram as primeiras expedições fluviais e jazidas de lavagem do ouro, no século XVII, garimpado em Xiririca (atual cidade de Eldorado) nos rios Pedro Cubas, Taquari e afluentes, e em Sete Barras nos rios Quilombo e Ipiranga (entre outros). E, de volta para a capital paulista, alcancei os campos de Piratininga por onde as águas convergem para o grande canal do Rio Tietê que cortava as terras dos tupi-guaranis e que serviu de rota para os bandeirantes desde o século XVIII.
Na medida em que vou chegando próximo da minha casa, a saudade cresce e um enorme vazio ocupa o meu peito. Todas as sextas-feiras, sento-me diante de uma folha em branco para escrever a crônica semanal e as ideias começam a fluir pela ponta do grafite macio do meu lápis 2B. Sinto que, literalmente, eu coloco os meus pés no chão da terra. Lembro dos meus dedos enterrados na areia do fundo do pequeno rio que corta o meu sítio e um canto sopra, como um vento em meus ouvidos, uma das mais pelas poesias de Fernando Pessoa: “O rio da minha aldeia não faz pensar em nada. Quem está ao pé dele está só ao pé dele” [...] E por isso, porque pertence a menos gente, é mais livre e maior o rio da minha aldeia. Apesar de muitos rios serem muito mais famosos do que o pequeno rio que sequer tem nome, eles não são mais belos que o rio que corre lá no meu chão. 

Publicidade

Veja também