Na noite de sexta-feira de carnaval, o bloco “Êtanóis” manteve a tradição e saiu pelas ruas do centro da cidade. Havia muita gente por lá. Crianças fantasiadas, o coletivo “Frente Feminista Pela Vida das Mulheres”, inúmeros estudantes universitários, professores da escola pública, comerciários, a turminha firme e forte dos cabelos brancos da qual me incluo, muita diversidade e animação.
“Êtanóis” representa uma síntese do espírito carnavalesco que paira no ar prudentino. É um misto de tradições, resistência ao marasmo que insiste em não ir embora, humor circense, improviso, diversão e arte. Tinha de tudo. Se o caminhão do som está quebrado? Ah, não tem problema, não. Coloca um cabo de vassoura na porta do bagageiro para instalar a mesa dos microfones. “Hei, você aí... amarra a caixa com uma corda e puxa a banda em cima de uma carretinha”. Pronto! O carro de som mantinha aquela raiz de teatro mambembe do pessoal do Rosa dos Ventos, mas também lembrava aqueles antigos corsos carnavalescos que percorriam as principais avenidas da cidade.
A banda montada em cima da carroceria cantava antigas marchinhas, puxava um pouco de frevo e baião e era seguida por laboriosos percussionistas. Apesar de 18 anos de existência do “Êtanóis”, ainda faltam muitos instrumentos para compor o que se pode chamar de bateria, como um repique, caixa de guerra, cuíca e agogô. Certamente um surdo de primeira ajudaria bastante a marcação principal do samba. Mas foi tudo muito bom! Deu até saudade do Fornalha e do Sabirú, nossos sambistas incansáveis dos antigos carnavais.
Que ironia da história. Estávamos todos ali. Nas mesmas esquinas que, já na década de 1920, a folia era animada pelos cordões com seus calorosos embates de serpentinas, confetes e lança-perfumes. Pelos mesmos caminhos que os corsos saíam às ruas com seus carros enfeitados. Quase em frente ao endereço do antigo Theatro Santa Emília, do Cine Internacional e do Comercial Futebol Clube, onde ocorreram os primeiros bailes à fantasia. E com direito à roda de ciranda na nossa praça da apoteose, a famosa Praça Nove de Julho, que desde a década de 1930 recebia iluminação especial e decoração para abrigar inúmeras bandas que tocavam animando os foliões.
E que venham outros carnavais, quem sabe com as nossas escolas de samba nas ruas, muitos outros blocos carnavalescos e outras expressões da cultura popular. Afinal, como diz Nelson Sargento, o samba “agoniza mas não morre, alguém sempre socorre, antes do suspiro derradeiro”.