O Som e a Válvula (Historinhas dos bastidores do rádio)

O Espadachim, um cronista abstêmio que abre uma exceção: aceita uma taça desde que seja a Copa do Mundo

OPINIÃO - Sandro Villar

Data 09/06/2020
Horário 05:31

Reconheço que o título da crônica está meio esquisito e até parece que a atual conjuntura, onde pelo jeito só faquir sobreviverá, é o assunto a ser abordado. Ou o assunto a ser ventilado sem ventilador. Nada disso. Atendendo a milhares de pedidos, todos da mesma pessoa, contarei dois causos dos bastidores do rádio, isso no tempo em que o rádio não estava tão "desfigurado" como atualmente.

Depois de trabalhar apenas em rádios AM de São Paulo, nunca pensei que também atuaria numa emissora FM. Pois foi o que aconteceu no fim dos anos 80. Parafraseando o Washington Olivetto, a primeira FM a gente nunca esquece.

Não me esqueço da minha primeira FM, a Rádio Líder, de Guarulhos, onde por algum tempo apresentei um programa nas noites de sexta-feira e de sábado. Tinha liberdade para criar e isso não tem preço. Com duas horas de duração, o programa começava à meia-noite.

Antes de mim havia o programa do Moraes Sarmento, uma das lendas do rádio, e uma atração apresentada por dois rapazes. O negócio deles era música pesada e, se me permitem o chiste, não sabia que música tinha peso. Encurtando esse papo: a dupla tocava rock pesado, conhecido como heavy metal, que alguém já tachou de som de maconha talvez injustamente.

Quando dava coisa de dez e meia da noite, eu pegava o meu possante e ia para Guarulhos. No percurso até a segunda maior cidade paulista (crônica também é cultura), ouvia o programa com as últimas novidades do heavy metal. Eles entendiam do riscado, estavam mais por dentro do que a CIA em repúblicas bananeiras.

Uma noite eles se empolgaram depois da execução de um disco. Um dizia pro outro: "Ocê viu, meu, baita som". Ao que o colega, pra lá de extasiado, comentou: "Ocê tem razão, baita som". Aí o primeiro não se conteve e foi mais longe do que andarilho: "Puta som, meu".

Nada contra esse tipo de palavreado. Apenas ressalvo que, naquela época, a linguagem da mídia, principalmente o rádio e a tevê, ainda era careta, formal demais, sem o coloquialismo de hoje em dia.

No segundo causo recordo de uma brincadeira que o jornalista e radialista Zancopé Simões fazia comigo quando a gente se encontrava nos corredores da Rádio Record, ainda no bairro do Aeroporto, numa época em que a Record ainda não rezava, a não ser para Nossa Senhora Aparecida.

Toda vez que me via, o Zancopé falava em voz alta: "Sandro Villar, um nome dentro do rádio. Você abre o rádio e estão lá: válvulas Sandro Villar". Sou do tempo do rádio à válvula, radinho transístor e o escambau. É, Zancopé, demorou, mas chegou o dia da minha "vingança" que “sará maligna”, como dizia o Chico Anysio.

Zancopé, vou promovê-lo a Zancomão e, como você é pai de 12 filhos, tachá-lo-ei de coelho e não me leve a bem.  

DROPS

Unicórnio é um cavalo que foi traído pela égua.

Quem não tem competência pode se estabelecer pela força da grana e os golpistas não me deixam desmentir.

Escola com todos os partidos e não se fala mais disso.

Em boca fechada não entra o mosquito da febre amarela.

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