Como no sonho, o tempo parou para mim. E o sonho foi muito vivo. Sei bem que, mesmo dormindo, toda a nossa fisiologia mental continua a operar. Bem conheço que o trabalho do sonho é exaustivo. Dormimos, mas nosso psiquismo continua a trabalhar. Mas, mesmo sabendo tudo isso, o tempo parou para mim. Houve o encontro tão esperado. Fui, naturalmente, diminuindo os estímulos, des-investindo do fora, narcisi-zando. Meu estado de vigília adormeceu e, dormindo, acordei para o sonho se realizar. O silêncio instalou-se, assim como o ritmo. A espera começou. A expectativa também, mas a incerteza ficou, ou seria medo? E o mundo parou para mim.
Os pensamentos e os sonhos vibravam internamente. Como seria lá dentro? Ela nasceu. E o tempo parou para mim. E o mundo lá fora, lá fora permaneceu. Nossa união, encontro então, passou a ser um só. Eu e ela, uma unidade. Noite e dia, dia e noite não se distinguiam. Nossa união era ela e ela. Ela sentia-se como se ainda estivesse no mesmo lugar de sempre. O mundo era ela. Era só o que me importava. Quando o tempo para o que não cessa é a suavidade, a inocência e a verdade.
As formigas levam suas folhas, as abelhas pousam na flor, as mãozinhas viram diversão e os pezinhos tornam-se pirulitos. O tempo parou para mim. Cebolinha, Mônica, Cascão e Magali alegria eu vi. Se vi, ela viu, eu e ela, uma unidade. O espelho, a unidade algo tão primordial. O tempo para, para mim e para ela. Essa preciosidade chamada unidade fará com que ela consiga lidar com o tempo que não para lá fora. Um tempo veloz, feroz e atroz. O tempo varia e exige tolerância à frustração. Turbulência e tempestade fazem parte do dia a dia.
A unidade ou o estado de fusão inicial, estabelecida, experienciada, vivida no pós-nascimento é o preparo para toda uma vida, onde a criança poderá desenvolver-se com mais facilidade em direção ao crescimento emocional. A unidade é um marco, fazendo com que a criança carregue dentro de si, a gênese do sentir-se amado, acolhido e vivo. É o início de tudo.
