O todo-poderoso presidente

Roberto Mancuzo

COLUNA - Roberto Mancuzo

Data 01/11/2022
Horário 06:00

Sim, acabou. Finalmente o dia 30 de outubro chegou e terminou com a angústia de milhões de brasileiros. Na mais acirrada disputa eleitoral desde a redemocratização, entre mortos e feridos não se salvaram todos, infelizmente, como diz o ditado infame porque para metade deles, a angústia agora dura mais quatro anos.
Mas quero trabalhar outro assunto. Quero falar de poder, um termo tão nítido quanto contraditório. Assim, arrisco a dizer que não foram bem as fakes news, o STF (Supremo Tribunal Federal) ou as alianças que definiram a eleição. Ganhou esta eleição quem entendeu melhor sobre o que é lutar pelo poder. 
O poder é um termo que foi discutido e debatido por muitos pensadores, desde os gregos até os mais contemporâneos. 
O alemão Max Weber, por exemplo, diz que o poder é a imposição da vontade de alguém sobre outros, mas sempre com a relutância dos outros. E essa imposição acontece ou por questões ideológicas, econômicas ou política. Fácil de compreender e mais fácil ainda se inserir neste contexto. Ou temos poder ou somos submetidos ao poder de alguém. 
No entanto, gosto mais do que diz Michel Foucault, o filósofo francês. De forma genial, ele crava que vivemos em um espaço permeado por relações sociais e onde há uma relação social instaurada haverá sempre a luta pelo poder. Isso vale para dentro de sua casa e isso vale para as lutas políticas ou empresariais.
A questão é que para ele e para outro francês, neste caso geógrafo, Claude Raffestin, o poder tem uma fórmula. Ou seja, quem deseja ter poder sobre outro em uma relação social precisa fazer uma combinação exata de duas variáveis: energia e informação. (Em tempo: dizer que o poder tem uma “fórmula” é uma licença poética minha.)
Mas enfim, por energia entende-se toda a estrutura física, a vontade, o “gás”, o capital financeiro, os recursos humanos, as hard skills ou habilidades técnicas. Já por informação, define-se aqui o discurso e dele deriva também a narrativa. 
Em outras palavras, terá mais poder quem conseguir ser mais forte física, estrutural, técnica e financeiramente falando e quem ainda conseguir dominar a arte da comunicação, a soft skill mais desejada hoje pelos empresários.
No embate entre Lula e Bolsonaro, isso ficou bem claro. Enquanto Bolsonaro tinha vantagens energéticas significativas por ter todo aparato estatal ao seu lado, Lula tinha mais força na comunicação. 
Bolsonaro era uma potência energética, mas nunca soube se comunicar bem com todos os brasileiros. Falava apenas para sua bolha, que desde sempre o considerou “mito” e “patriota”. 
Já Lula, sempre teve o dom de chegar ao coração de milhões de pessoas com a narrativa da “vida melhor do que esta que aí está”. Não tinha tanta energia, mas à medida que a campanha seguiu fez boas alianças que garantiram a ele estrutura suficiente para vencer. 
O que fica agora para todos nós é que teremos quatro anos para ver se com força energética suficiente, a narrativa de Lula se sustentará. Metade dos brasileiros acha que sim. Outra metade, com certeza não acha. 
E assim, entendemos que a luta pelo poder nunca vai acabar.  
 

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