Os muros da cidade

OPINIÃO - Thiago Granja Belieiro

Data 16/12/2021
Horário 04:30

Presidente Prudente pode ser considerada a cidade dos condomínios fechados. Temos, por aqui, quase três dezenas deles, se não tivermos mais. Fato curioso, pois geralmente as pessoas buscam esse local de moradia em cidades grandes, marcadas pela violência e criminalidade. Não é o que ocorre aqui, uma vez que Presidente Prudente ostenta os melhores índices de segurança pública entre as médias e grandes cidades do Estado. 
Difícil medir as razões dessa preferência, certamente que, os valores da cidade e seus traços culturais podem ajudar a compreender o fenômeno, mas, mais importante, é apontarmos algumas consequências à vida urbana trazidas pela vida nos condomínios fechados. A primeira delas é a negação da cidade. Isso ocorre, pois, ao viver em condomínios, o que se busca é a autossegregação, familiar, social e de classe. 
O condomínio fechado separa, discrimina e aparta, inviabilizando a vida urbana, o contato com o outro e o diferente, eliminando as contradições sociais, desagregando o corpo político da polis. Com isso, vive-se a ilusão da homogeneidade social, da ausência de problemas e contradições, o que na prática é irreal. A negação do urbano é a negação da polis, talvez por isso a cidade apresenta-se sem contradições, pois delas se escondem atrás dos muros. 
A segunda consequência, mais visível, é o abandono mesmo do patrimônio urbano, revelado pelo esvaziamento do centro da cidade e dos bairros de classe média do seu entorno. O abandono das moradias e dos apartamentos da área central é algo que ocorre em Prudente desde os anos 1980, acentuando-se nas últimas duas décadas. O vazio do centro é o vazio da polis enquanto espaço político.
O charmoso e singular bairro do Bosque hoje está cheio de moradias vazias, ruas vazias e apenas alguns escritórios ocupados durante o dia. O mesmo fenômeno pode ser observado em bairros como o Jardim Paulista e Jardim Aviação. Outrora importantes bairros da classe média prudentina, hoje eles ostentam casas e mansões vazias, pululando as placas de vende-se e aluga-se. Potenciais locais para moradias populares num futuro distante. 
É uma utopia achar que os problemas da cidade podem ficar do outro lado dos muros. O muro do condomínio é apenas simbólico e revela barreiras que estão, na verdade, na cabeça dos seus moradores. O futuro da polis, nesse caminho, é o fim da cidade como espaço democraticamente humano. 
 

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