Os sargentos

O Espadachim, um cronista a favor da bermuda e das Bermudas

OPINIÃO - Sandro Villar

Data 27/07/2023
Horário 05:30

Ao notar a ausência de dois amigos queridos, frequentadores assíduos do bar do Osmar, em Prudente, logo me veio a pergunta na cachola: cadê eles? Onde eles estão? Enfim, o que aconteceu com os dois, quis saber do Osmar: "Eles morreram", contou o dono do bar dos Amigos, que fica na Rua das Palmeiras, na Cohab. 
Em seguida, o Osmar deu detalhes sobre os dois amigos, no caso, os sargentos Aurélio Bertolucci e João Bosco. Bertolucci, de 84 anos, era sargento da Polícia Militar e Bosco, de 68, tinha a mesma patente, mas no Corpo de Bombeiros.
Todo santo dia o seu Aurélio, como eu o chamava, marcava ponto no bar. Ficava lá a manhã inteira tomando sua cervejinha e jogando conversa fora. Quando dava coisa de 11h30 - ou meio-dia - ia pra casa almoçar. Com seu passo lento, ele caminhava pela Rua das Palmeiras, atravessava a Avenida Ana Jacinta e seguia no rumo de sua residência. 
Em setembro do ano passado, aconteceu o pior. "Ele foi atropelado e desde então permaneceu internado", contou o Osmar. O motorista era um garoto de 15 anos, segundo o comerciante. Como é óbvio, o adolescente não tinha carteira de motorista. De forma irresponsável, matou um idoso e nada vai acontecer ao rapazinho.
Antes de voltar a morar em Prudente, o seu Aurélio atuou como sargento em Itirapina, famosa pela ferrovia. Um dia ele deu carona, em seu Gordini, ao então governador Laudo Natel e, conversa vai e conversa vem, pediu transferência para Presidente Prudente. "Ele disse que gostava muito da cidade e queria morar aqui de novo", relatou o Osmar. O governador atendeu ao pedido do sargento. 
Já o sargento Bosco não resistiu a uma doença que a gente pode classificar de braba. Ou grave. Bosco tinha um Fusquinha bem ajeitado. Cuidava bem do carro. Ele parava o Fusquinha na frente do bar. No vidro traseiro do carro o sargento colocou um adesivo com a inscrição "Fusca Malcriado". Também tomava sua cervejinha e, claro, jogava conversa fora. Tanto ele quanto o seu Aurélio passavam a imagem de homens do bem.
Os dois sargentos eram pessoas doces. Eram educadíssimos, não alteravam a voz com ninguém. Também eram honestos e nunca deram calote no Osmar. "Nunca deixaram de pagar a conta. Vinham aqui no começo do mês e me pagavam", completou o comerciante. Conversa de botequim, quase sempre, é agradável. Os sargentos Bertolucci e Bosco farão falta. Talvez  seja o caso de a PM prudentina homenagear os dois.  

P.S.: Nosso pranto por Doris Monteiro e Leny Andrade, duas cantoras notáveis. Elas são tesouros da cultura brasileira. Repito: os grandes cantores estão rumando para outro plano. Aguentem Gusttavo Lima e outras baboseiras musicais. 

DROPS

Casamento: o que Deus uniu o dinheiro curto não separe.

Quem se arma até os dentes corre o risco de morrer de inanição, pois não consegue comer.

Perguntinha inocente: quem dá sopa pro azar também pode dar sopa aos pobres?

O melhor remédio para o sono é a cama.
(Guimarães Rosa no conto A Hora e a Vez de Augusto Matraga)

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