Pedra no sapato só incomoda quando não é preciosa. Sendo uma pedra preciosa, mesmo uma esmeralda pequena, não atrapalha o caminhar de ninguém. Duas também não "machucam" o pé e, se machucar, o sujeito aguenta o tranco e vai em frente com suas pedras preciosas.
Acho que a bota talvez seja o calçado mais apropriado para alguém andar com pedras preciosas bem escondidas. É que a bota é maior, ou seja, tem mais espaço do que o sapato comum. Mais confortável, meus caros e minhas caras.
Por falar em caminhar com pedras no sapato, lembro-me do verso da canção "Travessia", que marcou a carreira do cantor Milton Nascimento. É de autoria dele em parceria com Fernando Brant. "Meu caminho é de pedras, como posso sonhar", diz o verso.
Evidente que o verso é uma metáfora, uma linguagem figurada. Se o caminho é de pedra é porque a vida da pessoa está, no mínimo, tumultuada. Coisas da vida.
Em outros tempos menos bicudos dizia-se que "fulano é pedra noventa". Que diabo é isto? Simplesmente é um elogio ao distinto. Ou à distinta. Pedra noventa - ou 90 - significa que a pessoa é honesta, decente, correta, ilibada, ínclita ou qualquer outro adjetivo que designa alguém como pessoa boa, sangue bom e o escambau. Aliás, já que citei a expressão sangue bom, lembro que tem muito sangue ruim no Brasil hoje em dia e até hoje em noite.
E, graças à intervenção de Jesus Cristo, uma mulher adúltera escapou de morrer apedrejada. Uma multidão estava prestes a matar a mulher atirando pedras nela. Aí Jesus deu uma lição de moral na turba furiosa. O Mestre pegou uma pedra e falou: "Quem não tem pecado que atire a primeira pedra". Depois dessa, todos jogaram as pedras fora, enfiaram a cauda entre as pernas e deixaram a mulher em paz. Ah, sim: a mulher não se chamava Geni.
Em um samba belíssimo, o mestre Ataulfo Alves também fala sobre atirar a primeira pedra, mas diz respeito ao relacionamento amoroso. "Atire a primeira pedra aquele que não sofreu por amor", diz o verso. E você aí, já sofreu por amor? É um sofrimento do cão. Ou dor da flechada de cupido, por aí.
É pau, é pedra, diz Tom Jobim na aclamada "Águas de Março", que um crítico americano incluiu na lista das dez melhores músicas populares de todos os tempos. E o que dizer de alguém que nos recebe com duas pedras na mão? Outra metáfora. É uma pessoa perversa, precisa de orações e talvez seja o caso de ser benzida com água benta por um padre ou por um pastor.
Viver é um jogo duro. Ou seria uma pedreira? É como dizia o poeta Carlos Drummond de Andrade: "No meio do caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho".
DROPS
Pimenta nos olhos dos outros é colírio.
Filme da Semana no Cine Brasil: "Zé Carioca em Brasília", estrelando grande elenco cafona.
Cerveja já está mais cara. É o tal negócio: no Brasil contemporâneo está difícil até ser alcoólatra.
Prato do dia: osso ao molho madeira e, como complemento, sopa de osso em pó com fubá.
Vai reformar ou construir?
Casa das Tintas, a loja do Élcio, tem as melhores tintas. Entregas em domicílio: 3907-7500 e 99132-0716. Av. Ana Jacinta, 1.663.
