Pelos caminhos da cidade

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 02/07/2023
Horário 05:00

Dizem que os povos guaranis chamam de Peabeyú” (“Pe” – Caminho; “Abe” – Antigo; “Yú” – Ida e Volta), os estreitos caminhos que seus ancestrais utilizaram para circularem pelo continente. Quem nunca ouviu falar do famoso Caminho de Peabiru (que parece encontrar vestígios lá pelas bandas de Sandovalina), que conecta  os caminhos ancestrais guaranis do litoral ao Paraguai? Tudo percorrido a pé!
Talvez seja essa história que atraia milhares de aventureiros por trilhas muito antigas traçadas pelos povos originários na Mata Atlântica. Por esses misteriosos caminhos, repletos de cachoeiras exuberantes, terrenos íngremes e escorregadios, os acidentes são frequentes e requerem atenção do Corpo de Bombeiro para evitar tragédias maiores. E esses caminhos não se restringem apenas ao trecho de São Bernardo do Campo a Cubatão. Não. Há uma verdadeira trama de percursos a pé que forma uma trilha de mais de 4 mil km (quilômetros) que percorre toda a Serra do Mar e um trecho da Serra Geral, entre os Estados do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul (desde o  Parque Estadual do Desengano- RJ, até os cânions do Parque Nacional dos Aparados da Serra - RS!!!).  
Trilhas como essa são caminhos muito antigos, marcados pelos pés no chão, que revelam interações e conectividades entre diferentes lugares. O que dizer dos percursos dos peregrinos que caminham a pé até o Santuário de Santo Expedito? E o Caminho de Santiago, então?
Eu estava no meio desses devaneios outro dia quando caminhava por uma trilha entre as sombras das árvores do Parque do Povo. Parei para observar uma senhora que apressava o passo para alcançar o ponto de ônibus por um caminho mais curto traçado pelos transeuntes no meio da grama. Pensei com meus botões: “Não preciso caminhar tão longe não”. Me encantam as trilhas urbanas deixadas pelos transeuntes pelos canteiros das praças. Diriam alguns que são maus exemplos dos cidadãos que não respeitam as famosas placas “não pise na grama”. Mas você já parou para pensar no cotidiano dos cidadãos que precisam encontrar os caminhos mais rápidos dos percursos a pé? Essas trilhas urbanas também revelam novas experiências sensoriais. É um passarinho que faz seu ninho naquela árvore. É o burburinho e o frescor das águas da fonte luminosa. O espaço da cidade apropriado por seus moradores andarilhos!
Polêmicas à parte, não raras vezes os gestores das cidades simplesmente se curvam aos percursos traçados pelos transeuntes e melhoram o calçamento dessas trilhas urbanas. Vamos juntos caminhar pelas ruas da cidade?
 

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