Poluição diminui capacidade de bacia hidrográfica

Também foi constatado que ela possui “sérios problemas" relacionados ao desenvolvimento de processos erosivos e à supressão da vegetação nativa, em áreas protegidas por lei.

PRUDENTE - Mariane Gaspareto

Data 22/03/2015
Horário 06:51

 


A poluição na bacia hidrográfica do manancial do alto curso do Rio Santo Anastácio – que é responsável por cerca de 30% do fornecimento de água de Presidente Prudente - está diminuindo a capacidade de armazenamento de água do rio e de seus afluentes, conforme constatou o pesquisador da FCT/Unesp (Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista), campus de Prudente, Eduardo Pizzolim Dibieso. A situação preocupante contrasta com as ações de conscientização sobre preservação de recursos hídricos realizadas durante a semana em Prudente, em alusão ao Dia Mundial da Água, comemorado hoje.

Em sua tese de doutorado intitulada "Planejamento ambiental e gestão dos recursos hídricos: Estudo aplicado à bacia hidrográfica do manancial do alto curso do Rio Santo Anastácio", Dibieso promoveu um diagnóstico da bacia, constatando que "a situação do Rio Santo Anastácio está diretamente relacionada com os problemas ambientais de sua bacia hidrográfica".

O diagnóstico mostrou que a poluição da bacia ocorre por conta da disposição irregular de resíduos sólidos e líquidos – ou seja, lixo – na área urbanizada. Também foi constatado que ela possui "sérios problemas" relacionados ao desenvolvimento de processos erosivos e à supressão da vegetação nativa, em áreas protegidas por lei.

Segundo o pesquisador, a degradação dos recursos hídricos tem relação direta com processo de uso e ocupação das terras, associado à ausência de práticas de preservação e conservação ambiental, relatando ainda que há uma tendência de expansão da área urbanizada. "Em Presidente Prudente, isso ocorre, especialmente, no prolongamento das avenidas Coronel José Soares Marcondes e Miguel Damha, por residências, comércios e serviços; na Rodovia Júlio Budiski por residências, e na Raposo Tavares e Assis Chateaubriand por indústrias, comércios e serviços", afirma.

Já em Regente Feijó, existem propostas de criação de um "distrito industrial" nas nascentes do Córrego Palmitalzinho, afluente do Rio Santo Anastácio, e tendência de urbanização próxima ao Distrito de Espigão, em Regente Feijó. No setor sul da bacia, em Pirapozinho e Anhumas, verificam-se aumentos das áreas cultivadas com cana-de-açúcar, bem como nas áreas cultivadas com café nas nascentes do Rio Santo Anastácio.

Esse constante aumento da demanda de água para o abastecimento público da população, juntamente com o atual estado de degradação ambiental da bacia, gera uma necessidade urgente de propostas de planejamento ambiental, bem como ações que possam subsidiar a gestão e a melhora da quantidade e qualidade das águas da bacia do manancial, conforme Dibieso.

 

Ações

Como noticiado por este diário, durante a semana foram promovidas ações alusivas ao Dia Mundial da Água, com plantio de árvores e eventos como o 17º Encontro Regional de Educadores em Defesa da Água, que trouxe atenção para a importância do consumo consciente de água na região. O vice-presidente da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), Nelson Roberto Bugalho, que ministrou a palestra principal do encontro, salientou que a região conta com dois grandes rios, o Paraná e o Paranapanema, os quais poderiam beneficiar economicamente as cidades regionais.

Conforme Bugalho, caso ocorresse uma migração de empresas que precisam de abastecimento de água, por conta da crise hídrica enfrentada pelas metrópoles brasileiras, a região poderia recebê-las, por ser rica em recursos hídricos. No entanto, acrescentou que para que isso ocorresse sem prejudicar o meio ambiente seria necessário que a preservação desses rios fosse intensificada, impedindo que ocorra com eles o mesmo que ocorreu com outros que já tiveram seu curso d’água afetado na região, como o Rio Santo Anastácio.

 

Melhora

A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), que capta águas do Rio Santo Anastácio, informa que com o intuito de contribuir para uma melhora qualitativa e quantitativa da água na represa, já realizou o plantio de 7,2 mil mudas de árvores de espécies nativas no entorno do local. "Essa vegetação, mantida  desde 1998, contribui para que haja retenção de sedimentos e contenção de eventual erosão". A empresa também realiza constante monitoramento por meio de análises químicas e biológicas da água da represa.

CBH-PP
De acordo com Murilo Gonçalves Cavalheiro, secretário-executivo adjunto do CBH-PP (Comitê da Bacia Hidrográfica do Pontal do Paranapanema), "essas informações, sem dúvida, são preocupantes, visto que a bacia do Rio Santo Anastácio, em sua totalidade, concentra aproximadamente 72% da população do Pontal do Paranapanema, abrangendo os principais municípios da região", afirma.

Conforme Cavalheiro, são várias as medidas que podem ser tomadas para evitar a degradação ambiental da bacia, entre elas, a recuperação da vegetação nativa; utilização de técnicas de conservação do solo; recuperação de áreas degradadas; investimentos em saneamento urbano e rural; diretrizes de uso e ocupação de solo; mecanismos de compensação financeira a produtores rurais estimulando a conservação ambiental; investimentos em monitoramento hidrológico e criação da área de proteção e recuperação de mananciais.

 

SAIBA MAIS

A BACIA

A bacia hidrográfica do manancial do alto curso do Rio Santo Anastácio possui área de 197,70 km2, abrangendo parte dos municípios de Presidente Prudente, Pirapozinho, Regente Feijó, Anhumas e Álvares Machado. O Rio Santo Anastácio, por sua vez, nasce entre os municípios de Anhumas e Regente Feijó, próximo das cotas de 505 m de altitude e percorre 20,5 km tendo como principal afluente os córregos Embiri, Olga, Noite Negra, Pindaíba, Araci, Lajeadinho e Sebastião, sendo que estes, juntamente com os córregos do Cedro e Cedrinho, formam a represa de abastecimento público de Presidente Prudente.
Publicidade

Veja também