Professor de PP lança livro sobre a história e prática da capoeira

De acordo com Carneiro, a capoeira é praticada atualmente em 156 países, isso porque algum brasileiro a fez chegar até os mesmos.

VARIEDADES - Oslaine Silva

Data 09/07/2013
Horário 10:52
 

O mestre de capoeira, Nelson Hilário Carneiro, 43 anos, de Presidente Prudente, divulga seu primeiro livro. Intitulado "Capoeira e Alongamento: reflexões sobre flexibilidade e ensino aprendizagem para crianças e idosos", a obra contém 74 páginas e foi editada por Juliana Daibert. De acordo com o escritor, que também é professor de Educação Física na Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), a obra não está à venda, sendo distribuída apenas nas palestras, cursos e oficinas que ele tem realizado pelo Brasil.

"Na verdade, a ideia do livro nasceu a partir dos cursos que ministro, pois percebo o quanto profissionais dessa arte necessitam de qualificação. Quero com ele oferecer subsídios para que o trabalho já desenvolvido pelos que estão no mercado seja mais seguro e eficiente", expõe. O lançamento da obra ocorreu no dia 8 de junho, no Centro Cultural Matarazzo.

Carneiro enfatiza que "a capoeira é o que você quiser que seja". "Ela pode ser brincadeira para quem quer brincar; jogo para quem quer jogar; e luta para quem deseja ser um lutador. Não existe limite de idade para praticá-la, basta querer e ter um bom instrutor", destaca.

Com esse desejo, o mais novo escritor dividiu sua obra em três capítulos: no primeiro, ele esclarece lendas e mitos sobre essa arte totalmente brasileira e explana sobre a importância do aquecimento, da flexibilidade, entre outras para desenvolvê-la.

No segundo, a abordagem central é a respeito da importância do lúdico para a prática da capoeira com as crianças. Conforme ele, não se pode sobrecarregá-las apenas com as técnicas, e sim canalizar com brincadeiras. "Procuramos fazer um trabalho que envolva amizade, sociabilidade com elas, para que brincando exerçam a capoeira em um ambiente saudável e com boa didática", explica.

A terceira idade é o foco do terceiro capítulo, onde ele evidencia que os exercícios são para que as pessoas que compõem este grupo mantenham suas capacidades. "É ai que a capoeira entra para ajudá-los na prática de fazer sozinho aquilo que parece ser difícil e que antes era tão normal. Nós apenas os ajudamos e não os formamos como lutadores", denota.

Segundo o mestre, algumas pessoas acham a arte da capoeira muito bonita, mas não a praticam por pensar ser algo difícil, por conta dos movimentos ágeis com saltos acrobáticos, misturados a dança, entre outros. Carneiro explica que isso é lenda. E que é tudo questão de ensinamento correto, treinamento e dedicação ao aprendizado.

 

A Capoeira

Contando um pouco da história da arte, o capoeirista fala que ela vem da época em que o Brasil ainda era colônia de Portugal. E a mão-de-obra escrava africana como todos sabem foi muito utilizada por aqui. Quando estes (escravos) chegaram ao País, sentiram a necessidade de se protegerem da violência que sofriam de seus senhores nos engenhos, nas senzalas e até mesmo quando tentavam fugir.

Como qualquer tipo de luta era proibida pelos senhores, se valeram do ritmo e dos movimentos de suas danças africanas, juntando com um estilo de luta que originou na capoeira. Foi um instrumento importante da resistência cultural e física dos escravos brasileiros. "Além disso, era uma maneira de manter a cultura de seu povo, aliviar o cansaço do trabalho pesado e também de garantir a saúde física deles", relata.

Carneiro conta que mesmo sendo escravizados, eles tinham trabalho e comida e, com a libertação, se viram perdidos sem saber para onde ir e o que fazer. Foi então que foram se aglomerando nos morros e as favelas crescendo. Na época, os políticos para tirarem proveito em seus comícios contratavam os capoeiristas para forjarem uma briga no do adversário. Com o tempo, essa farsa foi descoberta, mas a arte já se encontrava aos olhos da sociedade como um ato de marginalidade. Então a prática da capoeira foi proibida no País e a polícia instruída para prender que praticasse a luta. Até que após a apresentação de um mestre ao então presidente Getúlio Vargas, ele acabou liberando-a como um esporte nacional.

De acordo com Carneiro, a capoeira é praticada atualmente em 156 países, isso porque algum brasileiro a fez chegar até os mesmos. "Uma força muito grande que temos aqui é o grupo Muzenza, que conta com filiais em pelo Brasil e vários países. Temos que reforçar nossa cultura. Já estou inclusive pensando no próximo livro que será sobre a capoeira na universidade", revela.

 

Perfil

O prudentino conta que a capoeira faz parte de sua vida desde os seus 9 anos. Em Santo André, teve como seu primeiro mestre Sérgio Galão, depois o presidente da Federação Paulista de Capoeira, José de Andrade, que em 2000 veio a Prudente para o Campeonato Brasileiro de Capoeira.

Segundo Carneiro, muitas pessoas têm uma concepção de que capoeirista não tem cultura nem estudo. Prova de que isso não é verdadeiro é o currículo do mestre Carneiro, que tem duas pós-graduações, uma em Treinamento Esportivo e outra em Fisiologia. Em agosto, ele termina seu mestrado em Atividade Física e Saúde. "Não devemos culpar apenas a sociedade pela forma como a capoeira é vista ainda hoje, isso porque muito disso foi consequência dos ensinamentos errados praticados antes. Professores não eram preparados e muitos utilizavam métodos violentos para ensinar. Hoje os mestres estão qualificados em todos os sentidos, graduados ou não", afirma.

Com uma carreira brilhante, Carneiro sempre se destaca nos campeonatos mais importantes não só no Brasil, mas lá fora também. Em fevereiro ele conquistou o quarto lugar no mundial que ocorreu no Rio de Janeiro. E sua agenda está bem cheia até o final do ano: em 3 de agosto, estará em Catanduva (SP) e no dia 8, em Fortaleza (CE). No dia 7 de setembro, em Aracajú (SE) e, em novembro, em Belém (PA).
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