A confiança é uma aposta no futuro do outro. A filósofa francesa, Laurence Cornu, usa essa ideia para pensar as relações pedagógicas, mas ela também serve para refletirmos sobre a forma como se constroem as relações entre a sociedade civil e as instituições públicas.
Em Presidente Prudente, o debate sobre o Comuc/PP (Conselho Municipal de Políticas Culturais de Presidente Prudente) coloca em pauta não apenas a necessidade de recompor uma estrutura administrativa, mas, sobretudo, de reconstruir a confiança. Confiança entre artistas e gestores, entre o poder público e a classe artística, entre quem formula e quem executa políticas.
Depois de um período de instabilidade e desencontros, o desafio é, antes de tudo, um desafio relacional, que exige escuta, transparência e compromisso coletivo.
A confiança, como observa Laurence Cornu (2009), “é uma forma de relação que supõe o risco e o reconhecimento do outro como sujeito capaz de agir”. Ela não é um estado de segurança ou de estabilidade, mas uma abertura ao incerto, um espaço de construção que se consolida com o tempo, na convivência e na palavra compartilhada.
Quando transportamos essa reflexão para o campo da cultura, percebemos que a confiança entre instituições e sociedade civil se dá da mesma maneira, não nasce de leis ou de procedimentos administrativos, mas da experiência concreta do diálogo, da escuta e da corresponsabilidade.
Como estabelecer uma relação de confiança com estruturas públicas que, por vezes, se afastam do diálogo? E, ao mesmo tempo, como esperar avanços se a própria sociedade não se comprometer com a ocupação e o fortalecimento desses espaços de participação?
A confiança institucional é sempre fruto de um esforço coletivo. Depende de transparência e coerência por parte do poder público, mas também de envolvimento e maturidade da sociedade civil.
Reconstruir a confiança não é tarefa simples. Ela exige tempo, paciência e gestos concretos. Não se trata de acreditar cegamente nas instituições, mas de reconhecer que a confiança pública se forma na reciprocidade quando o poder público abre espaço para o diálogo, e quando a sociedade civil ocupa esse espaço com responsabilidade e compromisso coletivo.
Referência Sugerida
CORNU, Laurence. La confianza en las relaciones pedagógicas. In: JARES, Xesús R. (org.). Educación y conflicto: aprender a convivir. Buenos Aires: Noveduc, 2009. p. 13–22.