Que saudade das benzedeiras!

Os mais jovens, com certeza, não ouviram falar das benzedeiras de outrora. Olhando para a nossa realidade atual, penso que elas poderiam retornar. Eram muito bem-vindas, sem dúvidas, estão fazendo falta. A contemporaneidade ou os tempos atuais ou modernos clamam pelas suas presenças, espalhadas pelos quatro cantos da humanidade. Há poucas pessoas desejando o bem ou espalhando semente do amor para o próximo. A dor se espalha pela nação e o povo encontra-se em inanição afetiva. E o motivo, parece, que é o amor mudando de cor. 
As benzedeiras eram senhorinhas bem velhinhas, com seu lencinho amarrado na cabeça e com o dom de espalhar estrelinhas de doçuras, de amor, de calor e de paz; sem pedir nada em troca. Havia uma fila de mãezinhas com seus bebês de colo, ou crianças bem pequenas e até marmanjos esperando pelas suas bênçãos ou da cura pelo quebranto ou o “vento virado”, mau olhado, inveja, medo, cobreiro (herpes zoster), etc. Elas benziam de uma variedade de males físicos e espirituais, utilizando-se de sabedoria ancestral, rezas secretas transmitidas oralmente e o uso de ervas específicas. 
Elas eram muito procuradas quando os médicos não encontravam nada específico de sua área. Os rituais de benzimento eram marcados pelo sincretismo, combinando a fé católica popular (invocando a santíssima Trindade, a Virgem Maria e todos os santos como São Brás, protetor da garganta. Utilizavam ervas como manjericão, alecrim, aroeira, alfavaca, arruda e guiné. Algumas usavam o terço. 
Lembro que levava meus três filhos para o benzimento. Eles adoravam. Ela iniciava com o sinal da Cruz na testa, passando calmamente ao redor do corpo deles. E permanecia murmurando bem baixinho, muitas rezas e eles a fitava com seus olhinhos curiosos e certeiros de cura. Quase chegando ao final da benção, ela dizia que todo o mal era para ser arremessado para o fundo do mar. Saíam curados e benzidos. O medo ficava ali, tudo de ruim. 
Que saudade das benzedeiras! Era um acolhimento incondicional. Elas acalmavam, emanavam paz, serenidade, o bem e o desejo verdadeiro e profundo pela melhora. Elas tinham de sobra a bondade que transbordava. Que falta faz, as benzedeiras de outrora! O amor não pode mudar. O ódio, rancor, inveja, arrogância não devem prevalecer, devem transformar-se em direção do bem. O amor deve morar no coração de cada um de nós. Todos temos um pouco de “benzedeiras” dentro de si. Vamos exercitar e cultivar. O universo clama pelo sentimento de calor humano, afeto, amor e atenção.

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