Reforma da reforma

OPINIÃO - Arlette Piai

Data 16/10/2018
Horário 04:30

A constatação de que o ensino público e particular brasileiro é engessado, ineficaz e desconectado do século 21 é um fato. O currículo, entre os mais enciclopédicos do mundo, tem 13 disciplinas com escolas subservientes à ditadura dos caducos vestibulares. O cérebro, logo após o vestibular, deleta fórmulas e amontoado de informações que são acumuladas. Que perda de tempo e de energia dos nossos jovens! A mente é como o corpo, precisa digerir o conhecimento para que este faça parte do “organismo psíquico”. Lamentavelmente, as escolas brasileiras se atêm em oferecer informações, embora o Google desempenhe essa tarefa melhor que o professor.

O Brasil é o país que mais faz reforma do mundo, mas nunca fica reformado. Em torno de 50% dos alunos não concluem o segundo grau, 92,2% tem péssimo desempeno em matemática, enquanto nos países em que a educação é levada a sério a evasão é próxima a zero e mais de 90% tem bom desempenho em matemática. Será que os brasileiros não aprendem? Pelo contrário, são muito inteligentes. Ocorre que, em matemática, por exemplo, o número de tópicos exigidos aqui chega a ser dez vezes maior que em Singapura e adivinhe quem se sai melhor? Afirmou o físico Andreas Schmeichel, diretor da área de educação da OCDE (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económico), organização que reúne países desenvolvidos: “O que o estudante precisa é ser capaz de juntar as peças, pensar, saber analisar, fazer analogias e formular ideias”.

Segundo dados do último Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), 329 alunos tiraram nota zero na redação. Veja leitor, nota zero, “depois de ter cursado 12 anos de escola”. A grana pequena que Estado aplica na educação vai para o ralo grande. A sociedade brasileira não pode mais se calar. Se mostrar o que está longe da nossa realidade não basta como o desempenho do ensino na Finlândia, Coreia do Sul, Dinamarca, etc., vamos mostrar o que está perto: 77 das cem melhores escolas do país estão no Ceará, revela o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Que tal os representantes da Educação do Estado de São Paulo buscarem aprendizagem com a cúpula da Educação cearense? 

O mês do professor clama por reflexão sobre a ditadura que os submetem a trabalhar de acordo com a metodologia ditada por A, B ou C. É óbvio que a atualização dos professores é sempre bem-vinda, mas cada professor tem o direito de escolher o que é mais adequado, o que acredita, o que confia para trabalhar com seus alunos. E que sejam valorizados pelos resultados ou dispensados no final do ano letivo se não mostrarem resultados efetivos. Tão simples assim, como ocorre em países sérios.

Para encerrar este artigo, posto a oração de um autor desconhecido: “Dai-nos, Senhor, o dom de ensinar, esta graça que vem do amor. Mas, antes de ensinar, dai-nos o dom de aprender sempre e que possamos perseverar mais no aprender que no ensinar. Que o nosso saber ilumine, mas não brilhe, que abasteça a humildade, mas nunca produza orgulho. Que nossa voz nunca assuste, mas possa ser veículo de transformação e de esperança”.

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