Região é a segunda do Estado que pior paga o trabalhador no campo

Administrador e tratorista recebem, respectivamente, os menores valores; especialista aponta baixo desenvolvimento

PRUDENTE - THIAGO MORELLO

Data 03/05/2018
Horário 09:19
Arquivo - Situação defasada: piso de tratorista na região é de R$ 1.460,48
Arquivo - Situação defasada: piso de tratorista na região é de R$ 1.460,48

A média dos valores pagos aos salários rurais na 10ª RA (Região Administrativa) do Estado de São Paulo, cuja sede é em Presidente Prudente, é a segunda pior cifra praticada em todo o Estado, a julgar pela média das 16 RAs existentes. O valor médio mensal é de R$ 1.477,50 e perde apenas para a área de Santos (SP), conforme os últimos dados disponibilizados pelo IEA (Instituto de Economia Agrícola), referente ao mês de novembro de 2017. De forma mais detalhada, a situação é pior para o cargo de administrador aqui na região, com a cifra de R$ 1.855,51 (veja tabela).

Numa situação também defasada estão os tratoristas que trabalham no entorno, ao serem os segundos piores a receberem. O piso é de R$ 1.460,48, e também perde apenas para a área de Santos (SP), que remunera R$ 1.350. Ainda na tabela, é possível ver que a situação mais positiva é para os mensalistas (R$ 1.124,60), aqueles que desempenham serviços gerais nas propriedades, que é o nono maior salário médio do Estado, porém, o oitavo menor, se olhar pelo outro lado. Como capataz, que fecha as quatro funções analisadas (R$ 1.469,39), é o sétimo menor e décimo maior.

“Somos uma região de baixo desenvolvimento, que só ganha do Vale do Ribeira, que se concentra em Registro [SP]”. Essa é a fala do presidente do Sindicato Rural de Presidente Prudente, Carlos Roberto Biancardi, ao avaliar o preço pago pelos salários rurais na região. À reportagem, ele ainda reitera que, em termos de produção, a agricultura e agropecuária da região também estão em um nível de desenvolvimento baixo, o que também impulsiona para esse cenário.

Para Biancardi, isso é um reflexo da falta de investimento nas próprias estruturas regionais, pensando na aplicação de mais tecnologia, por exemplo. Coisas que acontecem nas demais áreas, como Franca (SP), líder em termos de boa remuneração. “Não podemos deixar de citar a quantidade de usinas de açúcar e álcool que foram fechando por aqui ao longo do tempo. Isso acaba marcando a região e traduzindo na remuneração paga, em vista de um cenário inseguro”, pontua.

Com isso, o presidente do sindicato busca detalhar que quanto menos indústrias, mais mão de obra disponível no mercado. É a lei da oferta e demanda. “Quando muitos procuram emprego na mesma função, com poucas vagas disponíveis, a tendência é reduzir o valor”, completa. O caso também abre espaço para uma migração de área, impulsionando muitos a procurarem emprego em outras regiões.

E o que pode motivar a falta de investimento nas propriedades, por exemplo, são as invasões de terra ocorrida nos últimos anos, bem como o próprio mercado econômico. “Hoje em dia está tudo mais selecionado. Tivemos uma fase ruim no setor e a insegurança que ficou acaba afetando, sim”, completa Biancardi. Mas daqui para frente, ainda de acordo com ele, o prognóstico é de melhorias, se o cenário continuar como está, ou melhor, isto é: “estabilidade da economia, que fomenta para abertura de empresa e futuros investimentos”, promove.

Um cenário parecido com outras épocas e que difere da atualidade. Biancardi lembra que, em outro ponto da história, havia uma exploração maior da agropecuária, em vista até mesmo de outras produções praticadas. “A gente pode citar o algodão, que é um grande gerador de mão de obra, mas foi se defasando aos poucos. Além disso, o período anterior às invasões de terra havia mais estabilidade, com uma média equiparada com outras áreas do Estado”, frisa.

 

Sub-regiões

O levantamento do IEA também mostra que os valores, dentro da mesma região, podem apresentar diferenças. Por exemplo, o salário de administrador, na 10ª RA, vai de R$ 1 mil a R$ 3.950. Sobre isso, Biancardi lembra que a região é formada por três sub-regiões, que representam os EDRs (Escritórios de Desenvolvimento Rural) de Dracena, Presidente Venceslau e Prudente. “Sendo assim, cada uma delas tem uma característica própria de produção, e isso ocorrendo vai promover reflexo na renda dos trabalhadores” explica. Ele também expõe que os municípios mais próximos de Prudente possuem um nível salarial mais alto.

Conforme analisado pelo diretor do EDR de Dracena, Luís Alberto Pelozo, isso também pode ser reflexo das vagas de emprego que foram se fechando com o tempo, também levando em conta a área e PIB (Produto Interno Bruto) regional. “A cana-de-açúcar também foi deixando de ser produzida, isso falando de grandes agricultores”, acrescenta Luís, em concordância com o pensamento de Biancardi, quando analisa as produções que foram deixando de ser trabalhadas em algumas regiões, como o algodão, anteriormente citado.

Já o diretor do EDR de Venceslau, Felipe Melhado, acredita que vai demorar um pouco para que a situação seja melhor que essa. Para ele, a situação política do país contribuiu para que o agronegócio, que sempre assegurou a principal produção, também fosse afetado. O caso é ainda mais crítico no que tange às negociações do cultivo de bovinos. “Isso sem a gente mencionar que muitas usinas foram fechadas ao longo dos tempos e fazendo com que as produções, as terras, fossem devolvidas para o produtor rural, que lida com um lucro baixo e acaba tendo que diminuir os valores dos salários e até o número de cargos”, argumenta.

VALOR MÉDIO DOS SÁLARIOS RURAIS MENSAIS PAGOS POR REGIÃO 
Região Administrativa Administrador Capataz Mensalista Tratorista Média das categorias 
Araçatuba R$ 2.058,56 R$ 1.661,54 R$ 1.293,12 R$ 1.632,35 R$ 1.661,39
Barretos R$ 2.219,42 R$ 1.771,45 R$ 1.310,53 R$ 1.602,32 R$ 1.725,93
Bauru R$ 2.028,61 R$ 1.606,15 R$ 1.165,77 R$ 1.570,41 R$ 1.592,74
Campinas R$ 2.299,38 R$ 1.497,71 R$ 1.151,88 R$ 1.665,19 R$ 1.653,54
Central R$ 2.221,58 R$ 1.487,40 R$ 1.258,34 R$ 1.593,83 R$ 1.640,29
Franca R$ 2.404,12 R$ 1.666,67 R$ 1.234,98 R$ 1.808,00 R$ 1.778,44
Itapeva R$ 1.975,65 R$ 1.352,48 R$ 1.085,58 R$ 1.515,58 R$ 1.482,32
Marília R$ 2.129,90 R$ 1.522,10 R$ 1.131,75 R$ 1.528,58 R$ 1.578,08
Presidente Prudente R$ 1.855,51 R$ 1.469,39 R$ 1.124,60 R$ 1.460,48 R$ 1.477,50
Registro R$ 2.114,29 R$ 1.533,33 R$ 1.067,14 R$ 1.640,00 R$ 1.588,69
Ribeirão Preto R$ 2.177,96 R$ 1.454,70 R$ 1.231,23 R$ 1.548,31 R$ 1.603,05
Santos R$ 1.935,00 R$ 1.350,00 R$ 1.060,00 R$ 1.350,00 R$ 1.423,75
São José do Rio Preto R$ 1.940,24 R$ 1.574,36 R$ 1.037,30 R$ 1.589,08 R$ 1.535,25
São José dos Campos R$ 1.970,28 R$ 1.420,00 R$ 1.116,13 R$ 1.521,31 R$ 1.506,93
São Paulo R$ 2.117,71 R$ 1.373,47 R$ 1.100,75 R$ 1.541,47 R$ 1.533,35
Sorocaba R$ 2.204,00 R$ 1.382,50 R$ 1.058,38 R$ 1.529,75 R$ 1.543,66
Publicidade

Veja também