Saudosismo

Evento é realizado na cidade há três anos e dentre os objetivos destacam-se: aprender a ouvir com atenção e respeitar uma pessoa idosa

VARIEDADES - OSLAINE SILVA

Data 09/03/2017
Horário 11:13
 

"Meus Avós Fizeram História" proporciona boa convivência e aproxima gerações em Anhumas


 

Aprender a ouvir com atenção uma pessoa idosa. Valorizar a vida que tem comparando com a de seus avós.

Respeitá-los e amá-los. Saber como o mundo era há alguns anos atrás. Proporcionar melhor convivência entre as gerações. Ensinar que a cordialidade deve acompanhar a evolução dos tempos. Dar todo amor e carinho que existir dentro de você a estes anjos qual chamamos de avós. Estes são só alguns dos objetivos de um projeto encantador que ocorre há três anos em Anhumas: "Meus Avós Fizeram História". E hoje o encontro será às 9h30 na Biblioteca Municipal.

Jornal O Imparcial Há 53 anos dona Maria Pedrina de Souza Bezerra, a vovó de hoje do evento, e Antonio Alves Bezerra se uniam em matrimônio

De acordo com Osvaldo Cavaliere, da assessoria de Turismo e Cultura da cidade, a ação ocorre mensalmente onde convidados especiais participam: idosos da comunidade local e que fazem parte da história do município. "Aqui eles contam suas histórias para alunos de escolas da rede pública ", destaca a neta.

Batemos um papo pra lá de gostoso com a dona Pedrina, ou Nice como é chamada por todos, para saber um pouquinho da sua vida. E ela começa dizendo que está empolgada com o encontro. Apenas receosa se conseguirá responder as perguntas dos jovens. E ela dá uma deixa do que recordará.

"Quando éramos crianças era tudo tão diferente! Éramos em 12 irmãs e dois irmãos . Sentíamos vontade de brincar, mas não tínhamos tempo nem com o que brincar. Ai fazíamos bonequinhas com sabugo de milho . A gente tinha vontade de sair também, mas só podia com os pais. E depois de ‘maiorzinhas’, o pai punha a gente para trabalhar para ajudar ele", recorda a vovó.

 

Diário vivo


Nascida em Milagres, município do Estado do Ceará, dona Pedrina recorda cada detalhe de como chegara por aqui no Estado de São Paulo. Seu irmão mais velho, José, ou apenas Dé como as irmãs o chamavam, veio servir o exército em Foz do Iguaçu (PR). E ele fez uma promessa de que quando voltasse para casa seria para trazer todos para cá.

"Ficamos lá com o pai e não víamos a hora do Dé nos buscar. Era um sonho! Mas, chegou uma notícia, as pessoas comentando que meu irmão havia morrido. Tristes, esquecemos o sonho. Até que certo dia estávamos colhendo algodão e o pai foi buscar a gente. Quando chegamos em casa o nosso irmão estava lá. Ele cumpriu o que prometeu e trouxe toda nossa família . não ficou um para traz", lembra Pedrina demonstrando alegria na voz.

 

Susto e emoção


A vovó Pedrina conta que seu pai estava preocupado em vir de pau-de-arara, mas Dé disse que não precisava se preocupar porque todos viriam de ônibus. Ela se lembra até hoje o nome da empresa: Matan.

O destino de toda a família era a Fazenda do senhor Domingos Vieira. Mas, a alegria que todos estavam sentindo por pouco não se transformou em tragédia: o ônibus capotou. Como ela diz, "tombou por duas vezes".

Ela se lembra de ter acordado e ver todos desmaiados, caídos no ônibus. Desesperada, achou que todo mundo havia morrido. Ela enxergou uma janelinha que tinha no teto e quando conseguiu avistar o lado de fora viu o motorista correndo.

"Ouvi uma criança chorando me voltei para trás e vi seus cabelinhos quais agarrei e fui puxando até conseguir colocá-lo para for a. Aos poucos os adultos foram acordando e saindo pela mesma janelinha. Ao todo, foram 16 dias na estrada. Seis deles ficamos em uma pensão. Nos restava cantar, rezar e agradecer a Deus. Coitadinha da mamãe . Tínhamos muitas imagens de santos e quando caiu no ônibus, foi em cima dos santinhos. Seu rosto pingava sangue e escorria nos santinhos. Ela ainda quebrou a clavícula", a vovó narra cada detalhe.

Esta é uma das histórias que ela mais gosta de contar. Quando vieram embora para São Paulo. "Ah, tem outra coisa legal. Quando o Dé foi buscar a gente, ele disse que achava que eu iria me casar com o filho do patrão dele. E não é que me casei mesmo? . Estamos casados há 53 anos com Antonio Alvez Bezerra!", exclama feliz dona Pedrina.

 

Fatos inusitados

Osvaldo salienta que a história é construída pelo povo. E reconhecer–se como participante ativo na construção da história se faz necessário na construção da cidadania e na identidade dos indivíduos. Para tanto propõem este projeto qual valoriza as histórias construídas por nossos idosos.

"Nossos avós têm muitas histórias e culturas incríveis. Eles podem trazer desde suas rotinas diárias lá atrás até assuntos e fatos inusitados. Certa vez trouxemos um senhor japonês, na nossa cabeça ele gostava de peixe cru, sashimi, mas ele adorava macarrão. A primeira vovó comentou que antigamente fazia as fantasias de carnaval de papel crepom. Um dia caiu uma chuva daquelas e desmanchou toda a fantasia...", destaca Osvaldo.

Que acrescenta que o projeto coloca frente a frente duas gerações, o passado e o futuro. Onde os mais jovens têm a oportunidade de reconhecer valores dessa rica história. "Eles ensinam como foram educados, a forma de respeito que tinham com todas as pessoas, especialmente as famílias. Como era a alimentação deles, mais saudável, receitas da vovó, e por aí vai", completa o assessor.

O projeto "Meus Avós Fizeram História" foi selecionado em 2014 pelos resgates históricos que fazem com fotografia antigas, vídeos... Quem sabe isso não é parte de um material para a produção futura de um documentário?

"Temos aqui, além de prateleiras de livros, uma biblioteca viva. Uma forma de chamar a atenção para outros públicos, mostrar que ela pode ir além de um espaço apenas para leitura", acentua Osvaldo.

 
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