No poema de Carlos Drummond de Andrade, "no meio do caminho tinha uma pedra". Mas, neste caso, não. O que existe é um ponto de ônibus. Ele está instalado exatamente sobre o piso tátil da calçada, recentemente refeita na FCT/Unesp (Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista), campus de Presidente Prudente, na Rua Roberto Simonsen. No local, não há qualquer sinalização ou isolamento da área para que a pessoa que não enxerga, e se pauta pelo dispositivo no solo, não colida com os pilares do ponto.

Em frente à Unesp, sequência do piso tátil é atrapalhada por ponto

Ele foi instalado na semana passada, dentro do processo de remodelação destas coberturas que atualmente ocorre na cidade. Para o presidente do Condef (Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência) de Prudente, Milton Takao Mizukawa, o cenário revela falta de orientação aos profissionais que executam os serviços, pois, o ato "demonstra que a pessoa não sabe qual a finalidade do piso tátil". Além disso, o representante lembra que a falta de sinalização pode causar um acidente ao deficiente visual. "Não podem ter obstáculos. A pessoa pode tropeçar, cair e se machucar", afirma.

O representante do conselho esclarece que as pessoas com deficiência ainda enfrentam dificuldades no dia a dia, devido a obstáculos e falta de estruturas corretas nas vias públicas. Mizukawa ressalta que toda proposta de remodelação e obras devem levar em consideração os aspectos de acessibilidade, mas, que, em muitos casos, isso não ocorre de forma adequada.

De acordo com titular da Semav (Secretaria Municipal de Assuntos Viários e Cooperação em Segurança Pública), Oswaldo de Oliveira Bosquet, todos os pontos de ônibus que são instalados em Prudente, que seguem as atividades do PAC 2 (Programa de Aceleração do Crescimento 2), do governo federal, vão conter todos os meios de acessibilidade necessários. Sobre o ponto em questão, fixado sobre o piso tátil, o secretário explica que foi necessário instalar no local devido ao espaço estipulado, mas afirma que a área seria reformulada para dar a continuidade do piso indicativo aos deficientes. De acordo com o secretário, como a obra é realizada pela Consórcio Prudente, junção de duas empresas, esta deveria ser questionada sobre a execução da obra e a ausência de sinalização da obstrução sobre o piso tátil. No entanto, no início da noite de ontem o engenheiro responsável pela obra, que pediu para não ser identificado, informou à reportagem que o ideal seria procurar a Sosp (Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos), pois não estava autorizado a se posicionar sobre a questão. O titular da pasta municipal, Rodnei Rena Rodrigues, também foi procurado pelo celular ontem à noite, mas não foi localizado.

 

No geral

O representante da Seplan (Secretaria Municipal de Planejamento, Desenvolvimento Urbano e Habitação), Laércio Batista de Alcântara, garante que a prefeitura, desde o início desta administração, realiza uma série de atividades com vistas a garantir as questões de acessibilidade e a qualidade no fluxo dos pedestres em geral. Entre elas destaca a fiscalização de calçadas irregulares, que novas empresas apresentem um laudo apontando que atende todas as exigências de acessibilidade, instalação de piso tátil nas novas obras do Executivo, entre outras.